Os primeiros passos hesitantes que lançaram a era do plástico foram dados há cerca de 150 anos. Com o nascimento da indústria petroquímica após a Segunda Guerra Mundial, a era do plástico explodiu. Em poucas décadas, até o final dos anos 70, a produção global do plástico ultrapassou a do aço.
1862 - Parkesine (1)
A primeira substância semelhante ao plástico foi apresentada na Mostra Internacional em Londres, em 1869, quando Alexander Parkes anunciou sua descoberta: 'Parkesine'. Uma massa plástica que poderia ser moldada por uma máquina em uma infinita variedade de produtos. Parkes começou com o 'colódio' (2), uma mistura de éter, álcool e celulose natural derivada de algodão. O resultado foi uma loção gelatinosa que ele esperava moldar em finas fatias. Infelizmente, as substâncias químicas usadas para fazer o colódio eram muito caras, seus patrocinadores deram para trás, e o empreendimento de Parkes caiu em domínio de terceiros poucos anos depois.
1869 - Celulóide
A busca pela imitação de bolas de bilhar de marfim fez disparar a próxima grande descoberta do plástico - o celulóide. No antigo Estado de Nova Iorque, John Wesley Hyatt tentou enrolar uma bola de madeira com colódio, a mesma mistura que Parkes havia usado. Foi uma boa idéia, a não ser pelo fato de que a bola explodiu ao contato. A solução foi adicionada com cânfora. Isto fez com que o novo material ficasse tanto maleável quanto resistente. O celulóide foi o primeiro 'termoplástico', uma substância que, quando moldada sob calor e pressão, retém sua forma. Hyatt passou a produzir pentes, pinos, golas de camisas e bandas de elástico de celulóide os quais pareciam feitos de marfim, ébano, madrepérola e casco de tartaruga. Poucos anos mais tarde, em 1888, George Eastman (da famosa Kodak) deu ao celulóide seu maior avanço, quando o transformou no primeiro material flexível para fotografias e filmes.
1909 - Bakelite
Leo Baekeland, um imigrante belga em Nova Iorque, descobriu o primeiro plástico totalmente sintético aplicando calor e pressão a uma mistura de fenol, a partir de destilado de carvão (3) e formaldeído (álcool destilado de madeira). Bakelite foi o primeiro plástico derivado de combustíveis fósseis. Era também um termoplástico - uma vez 'estabelecida', sua forma estava fixada. Bakelite era virtualmene indestrutível - à prova de quedas, quimicamente estável e resistente a eletricidade e calor. Era também incrivelmente útil e muito belo. O Bakelite tornou-se o milagre plástico da era da Arte Deco. Foi transformado em gabinetes para rádios e telefones, bolas de bilhar, estrutura para canetas, pentes, isolantes elétricos e balcões. Mais tarde, tornou-se ingrediente essencial na maioria das armas de fogo usadas na Segunda Guerra Mundial. Em seus últimos anos, Leo Baekeland tornou-se um fervoroso ativista da paz e eventualmente vendeu sua empresa para a gigante química Union Carbide.
1920 - Rayon e celofane
Louis Berniguet desenvolveu o rayon, uma forma de cellulose modificada (matéria fabricada), em Paris, em 1891. Mas foi o engenheiro suíço JE Brandenberger que em 1913 aperfeiçoou uma forma de enrolar o rayon em folhas claras viscosas, que ele chamou de celofane. A DuPont registrou a patente em 1920. Brevemente o celofane foi lançado como o primeiro material de embalagem flexível e à prova de mistura - inicialmente usado para embalar cigarros, cigarillhas, chocolates e alimentos cozidos. Enquanto isto, o rayon, da fibra sintética à base de celulose, tornou-se o primeiro substituto artificial para fibras. A Du Pont aperfeiçoou sua fabricação em 1926, e logo ele se tornou um material suave, luminoso, preferido na moda. Até a metade dos anos 30, cerca de 80% dos vestidos vendidos nos Estados Unidos continham algum percentual de rayon.
1926 - Vinyl (PVC ou policloreto de vinil)
Walden Semon estava trabalhando na BF Goodrich em Ohio, procurando uma maneira de ligar borracha com metal quando descobriu o policloreto de vinil. Mas nada de mais aconteceu com o PVC até a Segunda Guerra Mundial, quando a borracha natural se tornou escassa. O vinil era um isolante durável, de modo que foi usado em lugar de borracha para cobrir fios elétricos tanto em navios quanto em aeronaves. O PVC é extremamente tóxico, liberando dioxinas causadoras de câncer e outros poluentes orgânicos persistentes, tanto na sua produção quanto na disposição. O PVC foi relacionado a uma forma rara de câncer de fígado, bem como câncer cerebral, câncer de pulmão, linfomas, leucemia e cirrose - 60% da molécula do PVC vem do cloro. PVC é usado em tudo, desde cortinas de box de banheiros e materiais para armazenamento de água até partes de automóveis e malas. Mais de 60% de seu uso ocorrem na indústria da construção.
1935 - Nylon e neoprene
A popularidade do baquelite disparou a mania do plástico. O cientista alemão Herman Staudinger foi pioneiro na química do polímero em 1920. Mas foi o químico da DuPont, Charles Carrothers que, com seu estudo sobre a longa cadeia dos poliésteres, abriu a porta para a abundância do plástico. Carrothers descobriu que a inserção de diferentes elementos (nitrogênio, oxigênio ou cloro, por exemplo) em uma cadeia química de hidrogênio e carbono criava possibilidades sem fim de 'polímeros'. Pelo ano de 1935, ocorreu-lhe a idéia de um novo plástico, chamado Fibra 66, finalmente uma melhoria do nylon. Reveladas em 1939 na Feira de Nova Iorque, as meias de nylon rapidamente varreram o mundo. Carrothers e seu grupo também criaram o neoprene, a primeira borracha sintética. Mas sua maior descoberta foi o revolucionário têxtil sintético, o poliéster, agora o esqueleto da indústria da confecção.
1936 - Polietileno
Quase ao mesmo tempo, dois pesquisadores britânicos da ICI (4), R. Gibson e E. Fawcett, aquecendo o etileno em um pressurizador, descobriram por acidente o polietileno (também chamado politeno), agora um dos plásticos mais comuns do mundo. Foi o primeiro plástico a vender mais do que o equivalente a 373 milhões a 453 milhões de quilos (5) por ano nos Estados Unidos, e uma maior quantidade anual dele passou a ser produzida do que qualquer outro tipo de plástico. O polietileno é usado para tudo, desde garrafas de bebidas e embalagem para leite até sacolas de mercearias e recipientes para armazenamento de alimentos.
1949 - Tupperware
Os anos após a Segunda Guerra assistiram à explosão no consumo de bens de plástico. O cloro polivinilideno (também conhecido como plástico empacotador ou fime de embalagem) foi proclamado como a forma moderna de embalar e armazenar alimentos. O plástico (de fato, o vinil) substituiu o shellac (6) no mercado fonográfico quando os discos (LPs) foram lançados no final dos anos 40. Enquanto isto, em Vermont, Earl S. Tupper comprou algumas máquinas usadas de moldar plásticos e alguns pellets (7) de polietileno da DuPont e rapidamente produziu seu primeiro Tupperware. Ele fez história. As vendas de produtos para cozinha de Tupper explodiram de forma milagrosa. Em 1959, ele vendeu sua companhia por US$16 milhões, comprou uma ilha na América Central e mudou-se para a Costa Rica, abdicando de sua cidadania americana para evitar impostos.
1950s-60s - Mania de plástico
O uso de plásticos foi às alturas à medida que a indústria automobilística passou ao centro da economia global. Em 1955, a General Motors lançou o Corvette, o primeiro carro a utilizar plástico no corpo de seu painel. Hoje, em média, um carro é 10% feito de plásticos. E na Europa, em 1959, o engenheiro suíço George de Mestral causou surpresa com as rugas que criou para a roupa de seu cão, uma imitação de sintético. Ele fez o material com nylon e o chamou de Velcro, juntando as palavras francesas velours (veludo) e crochet (gancho). Enquanto isto, nos anos 60, o artista pop de Nova Iorque, Claes Oldenburg, fez um hambúrguer gigante de plástico, e em Londres, Mary Quant desenhava brilhantes capas de chuva de plástico.
1970s - Temores tóxicos
Com o surgimento do movimento ambientalista e a descoberta dos impactos mortais do DDT e dos PCBs (bifenilas policloradas), sérias preocupações levantaram-se sobre o impacto desconhecido de outras substâncias químicas potencialmente mortais. O trabalho pioneiro da ambientalista Rachel Carson levou ao banimento do DDT na maior parte dos países orientais nos anos 70. Poucos anos depois o uso de PCBs também foi encerrado, quando se mostrou que causam câncer e danos ao sistema imunológico. Os PCBs foram amplamente utilizados em plásticos, borrachas, tintas e materiais para pintura desde os anos 20. Quarenta anos depois, essas duas substâncias químicas ainda são encontradas na cadeia alimentar.
1980-2008 - Pele polar e poluição
Ao final do século 20, viu-se um grande crescimento em dispositivos eletrônicos de plástico. O Dr. William DeVries instalou o primeiro coração de plástico em 1982. Superfibras também foram desenvolvidas. Entre elas estavam incluídas as de uma pele polar quente, rapidamente secável, fabricada de tiras de garrafas plásticas; a 'refrescante' Gore-Tex (uma forma de Teflon), que se tornou parte essencial do vestuário; fibras para roupas de ciclistas; e Kevlar, um material leve usado para a fabricação de coletes à prova de bala e para materiais de uso policial e militar.
Mas a preocupação pública com a saúde está crescendo. A desastrosa poluição do plástico, substâncias químicas relacionadas ao gênero, bem como ao câncer, como ftalatos e bisfenol A (BPA), próximas a plantas industriais, têm disparado uma demanda urgente pela regulamentação e pela reforma da indústria química.
Notas
1) Composto originalmente feito de explosivo à base de nitrato de celulose e óleo de castor, mas mais tarde de materiais diferentes, e usado como substituto para a borracha vulcanizada da Índia e para o marfim - também chamado xilotila.
2) Solução amarelada, viscosa, altamente inflamável, de piroxilina em éter e álcool, usada na produção de filmes fotográficos, na indústria litográfica e na medicina, principalmente em ataduras e como vedante de ferimentos.
3) Líquido escuro e viscose formado durante a destilação do carvão, destilado para além de compostos como benzeno, antraceno e fenol, dos quais deriva-se grande número de medicamentos e outros compostos sintéticos, e que rende um resíduo final (piche), usado principalmente na confecção de pavimentos.
4) International Chemical Industry
5) No original, "a billion of pounds", sendo que 1 pound corresponde a uma unidade de medida de massa que varia no tempo e de acordo com o local. Equivale a 0,373Kg ou 0,453 Kg.
6) Um tipo de laca de que eram feitos os discos fonográficos antes do surgimento do vinil, e que consistia de material facilmente quebrável.
7) Bolinhas esféricas de matéria-prima prontas para serem moldadas.
(New Internationalist, Sept 2008, Issue 45)
Tradução Cláudia Viegas / Ambiente JÁ