No que parece ser o primeiro exemplo de ação favorável a plantações geneticamente modificadas, um fazendeiro desafiou o governo do País de Gales plantando milho transgênico. O consultor agrícola e fazendeiro Jonathon Harrington afirma que cultivou pequenas quantidades de dois tipos de milho geneticamente modificado em sua fazenda próxima a Hay-on-Wye, e que também cedeu sementes a dois fazendeiros locais.
O Governo da Assembléia do País de Gales declarou que o país é zona proibida aos transgênicos, mas frente às ações de Harrington, admitiu que não tem poder para impor sua declaração. Harrington afirma que tomou a atitude devido à intransigência e indisposição da assembléia em discutir o tema.
"Preocupava-me cada vez mais com a falta de boa vontade da Assembléia galesa. Como não estávamos indo a lugar algum, decidi tomar uma atitude," disse. "O propósito foi testar e acordar nossos líderes políticos."
Sabotador ou Salvador?
O milho plantado por Harrington era de duas variedades do MON810, modificado para ser resistente à broca-do-milho européia. A praga não é forte na Grã-Bretanha, sendo uma ameaça maior à Espanha, onde o milho modificado é amplamente cultivado e onde Harrington obteve suas sementes. O milho MON810 está na lista da União Européia de "variedades comuns", o que significa que seu cultivo é legal.
"Tive assessoria jurídica," afirma Harrington. "O conselho foi que, enquanto estivesse na lista comum, seu cultivo não seria problema. Não acredito que tenha feito nada errado. Estou tentando fazer um favor à agricultura britânica."
A maior parte do milho modificado foi para silagem, segundo Harrington. Uma porção foi para ovelhas, mas não é certo que essas ovelhas entrarão na cadeia alimentar humana, já que são reprodutoras, acrescentou. Apesar da plantação ter ocorrido em outubro, só recentemente recebeu a atenção do público britânico.
O grupo ambientalista galês Friends of the Earth Cymru condenou o fazendeiro. Embora não tenha violado a lei, alguns aspectos do cultivo de transgênicos não receberam o acompanhamento necessário, o que pode ser passível de ação legal, disse Haf Elgar, ativista do grupo.
"Estamos muito preocupados com as alegações de Jonathon Harrington de que cultivou transgênicos," ela disse. "Pedimos à Assembléia que investigue a situação."
Uma nota do Governo da Assembléia do País de Gales afirmava que plantações geneticamente modificadas poderiam "comprometer algumas de nossas conquistas e ambições futuras da agricultura galesa... Entretanto, não podemos banir legalmente cultivos geneticamente modificados em Gales porque trabalhamos com o marco legal europeu," observou o governo.
Ação Secreta
Harrington diz que informou "meia dúzia de pessoas" do que estava fazendo, incluindo alguém da Assembléia, mas admite que temeu "ser atacado por lunáticos." Houve uma série de incidentes importantes no Reino Unido em que manifestantes arrancaram cultivos geneticamente modificados de campos de teste.
Em 2003, Denis Murphy, pesquisador de biotecnologia da Universidade de Galmorgan, alertou que seria impraticável um País de Gales sem transgênicos.
"Conheço um grande número de fazendeiros que não gosta de nada que restrinja sua habilidade de cultivar o que julga adequado," disse depois das notícias sobre as ações de Harrington.
Acrescentou que a idéia de um País de Gales sem transgênicos era "um artifício político" e seria insignificante se as plantações estivessem na fronteira com a Inglaterra. "Acho que no futuro, quando as variedades se tornarem realmente úteis aos fazendeiros (na Grã-Bretanha), eles talvez tenham que reconsiderar," disse.
(Terra, 01/02/2009)