Afinal, quem são mesmo os inimigos da Pátria: os que propõem um outro modelo de sociedade onde o ambiental seja pensado estrategicamente com o econômico e o social ou aqueles que defendem um modelo predador de desenvolvimento, a exemplo dos ruralistas?
Essa pergunta é básica e decisiva. Aqui se decide o futuro do país. O confronto entre Minc e Stephanes é a apenas ponta visível do confronto.
Agora, os mais novos inimigos da Pátria são os ambientalistas, que enfrentam uma coordenada campanha de desqualificação, que tenta "marcá-los" como inimigos do desenvolvimento.
Repressão, perseguição, discriminação e criminalização sempre foram ferramentas republicanas, que souberam se fazer sentir, desde o início do século 20, por anarquistas, comunistas, trabalhadores urbanos e rurais, movimentos sociais e populares, sem-terra, indigenistas e outros que questionavam e questionam o Brasil injusto e o desenvolvimentismo a qualquer custo.
O governo, seus ministros - exceções honrosas -, parlamentares ruralistas, representações empresariais, com o apoio expresso da grande mídia, sempre que podem atacam os ambientalistas, como sempre atacaram os movimentos sociais e populares.
Os argumentos difamatórios são sempre os mesmo: que somos inimigos do desenvolvimento; que hipervalorizamos "bichinhos e plantinhas" em detrimento das necessidades humanas; que estamos a soldo de interesses econômicos internacionais, assim ao infinito.
E isto se explica porque, dentre os movimentos sociais, os ambientalistas têm sido os críticos de primeira hora dos equívocos das políticas públicas, principalmente dos modelos econômico e de desenvolvimento.
Por diversas vezes alertamos que o processo de devastação avança sem controle e que não observamos medidas estruturais que possam interromper este processo equivocado de desenvolvimento, socialmente injusto e ambientalmente irresponsável.
Não somos inimigos do desenvolvimento nem queremos que nosso país se inviabilize economicamente. Esse modelo em voga sim, no curto e médio prazo, vai inviabilizar o Brasil, pelo esgotamento dos solos, pela derrubada das florestas, pela eliminação de rios, pela contaminação da água, pela erosão da biodiversidade, inclusive alimentar.
Há um confronto surdo no Brasil e no mundo sobre os rumos a seguir. Até a crise econômica em cena, doença própria do capitalismo especulativo, nos dá razão. Queremos um desenvolvimento que seja sustentável, economicamente inclusivo, socialmente justo e ambientalmente responsável. Ou então será o caos.
(Por Henrique Cortez e Roberto Malvezzi (Gogó), Adital, 31/01/2009)
* Agente Pastoral da Comissão Pastoral da Terra