O clima de cordialidade entre movimentos sociais e governos latino-americanos vai sendo aos poucos quebrado no Fórum Social Mundial. As lideranças dos movimentos têm feito críticas cada vez mais duras às políticas dos governos, principalmente dos considerados “progressistas e aliados”, com os da Venezuela, Bolívia, do Equador e Brasil.
O coordenador da Via Campesina e membro da direção nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), João Pedro Stédile, reivindicou que os presidentes façam “mudanças estruturantes” para proteger o povo da crise.
“[Diante desta] crise, que não é nossa, nós temos que juntar os movimentos sociais e os governos progressistas. Fazer uma grande articulação para apresentar propostas que freiem a crise e não amenizem, usando dinheiro público para ajudar as empresas, os bancos, como estão fazendo aqui no Brasil e em muitos países”, criticou Stédile, em entrevista à Rádio Nacional da Amazônia.
Ontem (29), durante encontro com os presidente da Bolívia, Venezuela, do Equador e Paraguai, o coordenador da Via Campesina foi ainda mais duro na crítica. “Os governos que me perdoem, exponho o que pensam os movimentos. Vocês têm andando muito frouxos. Fazem suas reuniões aí, comentam algo de conjuntura, mas nós esperamos mais de vocês.”
Para Stédile, a realização do Fórum Social Mundial na Amazônia é oportuna para a discussão sobre os interesses internacionais na região e para a articulação dos movimentos populares dos estados do Norte. “Os capitalistas de todo o mundo estão com olho desse tamanho para se apropriar dessas imensas riquezas, aqui preservadas há milhões de anos com os povos indígenas. Por isso, a Amazônia corre sérios perigos”, ressaltou o coordenador da Via Campesina.
"As populações da Amazônia têm que contrapor com um projeto popular. Recuperar a soberania do povo sobre essas riquezas. Reestatizar a Vale para que não se mexa mais na floresta. Nós do MST defendemos o desmatamento zero. Daqui em diante, nenhuma árvore derrubar. E nessas áreas degradadas, fazer reforma agrária, distribuir para os trabalhadores e fazer programas de reflorestamento e uma nova produção agrícola que não dependa de desmatamento.”
(Por Juliana Cézar Nunes, Agência Brasil, 31/01/2009)