Depois do cerco montado pela Polícia Federal há exatamente uma semana e um dia, após a Folha publicar a foto dos acusados, os cinco garimpeiros que mataram um índio yekuana e deixaram outro ferido, se entregaram às autoridades. Eles foram indiciados por homicídio e tentativa de homicídio qualificados.
Ontem, Aldenor Alves Pereira, José Raimundo da Silva, o "Acelerado" ou "Burrêgo", Ivo Sousa dos Santos e os irmãos Daniel Bezerra Ribeiro e Márcio Bezerra Ribeiro se entregaram à PF por volta do meio-dia, acompanhados de advogados.
Eles são acusados de matar a tiros, quarta-feira da semana passada, o tuxaua da comunidade de São Luiz do Arame, em Alto Alegre, o índio yekuana Luiz Vicente Carton e ferir também a bala o filho dele, Ronildo Luiz Carton. O crime ocorreu após os indígenas se negaram a levá-los de canoa pelo rio Uraricoera até a comunidade Uaicás, no coração da reserva.
No momento em que se entregaram, foi dado cumprimento aos cinco mandados de prisão temporária pelo prazo de 30 dias, expedidos contra eles pela juíza Maria Aparecida Curi, da Comarca de Alto Alegre.
Desde o dia do crime que agentes da Delegacia de Meio Ambiente (Delemaph) estavam na região em busca dos garimpeiros. Na perseguição, foram empregados 32 policiais, um helicóptero, quatro motocicletas e nove viaturas. O policiamento na divisa do estado com o Amazonas foi intensificado, assim como as fronteiras do Brasil com a Venezuela e a Guiana.
O cerco policial incluía ainda vigilância na casa de familiares e amigos dos acusados nos municípios de Alto Alegre, Iracema, Mucajaí e Boa Vista. Anteontem à noite, os policiais encontraram os garimpeiros andando em um veículo Van, de cor verde, pelas ruas da Capital. "Quando perceberam que não tinham saída, decidiram se entregar", destacou Alan Gonçalves, titular da Delemaph.
Ao mesmo tempo em que realizava a perseguição, o delegado disse que a Polícia Federal trabalhou intensamente na identificação dos cinco garimpeiros, uma vez que essas pessoas costumam utilizar apenas apelidos.
"A partir do momento que obtivemos a qualificação deles, descartamos a possibilidade desses crimes ficarem impunes, pois com a identificação, eles com certeza seriam presos em breve", disse.
Conforme o delegado, assim que se entregaram, os garimpeiros assumiram os crimes, porém alegaram legítima defesa. Eles se negam a informar onde está o corpo do tuxaua Vicente e podem responder também por ocultação de cadáver. Até o final desta edição, às 19h, eles ainda eram ouvidos na PF. A previsão era de que ainda ontem fossem encaminhados à Penitenciária Agrícola do Monte Cristo.
O desfecho com saldo positivo, para o delegado, é um aviso aos crimes cometidos contra índios dentro de suas reservas. "Não vamos tolerar nenhum crime contra os índios, estamos atentos a tudo que acontece nas reservas e as pessoas que prestaram auxílio na fuga deles serão indiciadas por favorecimento pessoal", advertiu o delegado.
O casoO tuxaua Luiz Vicente Carton foi morto com um tiro de espingarda calibre 20 na cabeça. Em seguida, o filho dele, Ronildo Luiz Carton, foi acertado com um tiro também de calibre 20, só que no ombro, e conseguiu fugir do grupo escondendo-se na mata.
A região onde ocorreram os crimes é considerada de difícil acesso. Para chegar lá só é possível de barco, subindo o rio Uraricoera, ou de avião. De barco, a viagem dura dias e é tida com perigosa. Há quedas d’água e inúmeras cachoeiras. Apenas os Yekuana sabem navegar pela região com segurança.
(Por Andrezza Trajano, Amazônia.org, 30/01/2009)