A pecuária está avançando nas proximidades das nascentes do rio Xingu, na região Nordeste do Mato Grosso, e com ela, o desmatamento. O curso do rio está protegido pelo Parque Nacional do Xingu, onde vivem quase 6 mil índios de 14 etnias - mas as nascentes de seus afluentes estão fora deste escudo. "Este é o dado mais preocupante", diz André Muggiati, "campaigner" da Amazônia no Greenpeace.
A ONG divulgou ontem, em Belém durante o Fórum Social Mundial, o estudo "O rastro da pecuária na Amazônia - Mato Grosso: o Estado da destruição" . Pelo relatório, que leva em conta dados do Censo 2006 do IBGE, 79,5% das áreas utilizadas na Amazônia Legal Brasileira (com exceção do Maranhão) estão ocupadas por pastagens.
A pecuária é o principal vetor do desmatamento na Amazônia. Em dez anos, até 2006, a expansão da atividade na região aumentou em 10 milhões de hectares, o que corresponde ao território da Islândia.
O trabalho mapeia áreas de pastagens e de agricultura na Amazônia e coloca em foco o que acontece com o bioma no Mato Grosso. Aparecem ali quatro grandes áreas de produção. Uma delas já está consolidada, com desmatamento ocorrido antes de 2000, e está no extremo Sul do bioma, entrando pelo Cerrado. A expansão ocorre pelo Norte, o chamado "Nortão" (municípios de Juína, Juara, Apiacás e Colniza) e no Eixo da BR-163, uma região conhecida pelo aumento na produção de soja e que começa a ter mais pecuária acima de Sinop e nas proximidades de Alta Floresta. "A expansão da soja ao Sul empurra a pecuária para o Norte", explica Muggiati.
O dado novo é a proximidade do gado às nascentes do Xingu. "Isto ameaça o potencial de peixes do rio conhecido pela sua biodiversidade", diz o ativista. "O desmatamento avança por ali porque são as áreas que restaram de ocupação no Estado."
(Por Daniela Chiaretti,
Valor Econômico, 30/01/2009)