Participando do Fórum Social Mundial com a campanha “Salvar o Planeta. É Agora ou Agora”, o Greenpeace lançou nesta quinta-feira (29.01) o relatório "O rastro da pecuária na Amazônia". O documento buscou mapear, de forma inédita, a localização das áreas de pastagem e agricultura na região Amazônica por meio de análise de dados e imagens de satélite do sensor Modis (Moderate-resolution Imaging Spectroradiometer). O estudo foi desenvolvido na região referente ao Estado do Mato Grosso, detentor do segundo maior rebanho bovino no Brasil e recordista em desmatamento.
“A pecuária e a conservação ambiental não coexistem. Na Amazônia não existe nenhuma forma de pecuária sustentável”, sinalizou o André Muggati, da Campanha da Amazônia do Greenpeace, ao se referir à maneira como ela é realizada atualmente, exigindo grandes extensões de terra.
Desde a década de 1970, a pecuária, cuja expansão é contínua e crescente, se tornou a principal responsável pelos desmatamentos na Amazônia. Segundo dados do IBGE, 79,5% da área desmatada na Amazônia são correspondentes a esta prática. O Brasil é o maior exportador de carne do mundo. Entre os anos de 1990 e 2003 o rebanho bovino cresceu 140%, passando de 26,6 milhões para 64 milhões de cabeças de gado. Entre 2002 e 2006, das 20,5 milhões de cabeças de gado adicionados ao rebanho nacional, 14,5 milhões se encontram na Amazônia.
Estudo
Baseado na análise de dados gerados pelo sensor Modis, o estudo teve duração de 12 meses, quando foram selecionados, a cada 26 dias, as imagens das áreas analisadas. Foram obtidos um total de 23 imagens para cada região, o que tornou possível traçar o panorama da vegetação de todo o estado do Mato Grosso.
“A importância deste estudo está em demonstrarmos onde está a pecuária na região. Agora é possível saber qual o tamanho da produção e a sua localidade. Saber onde houve regeneração de vegetação em locais de desmatamento antigo e saber em quais áreas ocorreu a expansão”, explica Muggati.
Soluções
O novo relatório do Greenpeace aponta como solução para a expansão agropecuária, a implantação de metas para que seja alcançado o Desmatamento Zero, tema de outra campanha da organização. “Metas diferenciadas foram apontadas, queremos que o governo brasileiro adote medidas urgentes para que até 2015 zeremos o desmatamento na Amazônia”, diz Muggati.
A ONG ainda espera que um forte protocolo do Clima possa ser firmado em Copenhagen, em 2009, e que neste documento estejam incluídas ações para reduzir as emissões por desmatamento e degradação, os REDD. “A mudanças de comportamento e o desenvolvimento de ações que visem à recuperação da floresta, através de atividades sustentáveis, e não a alimentação de um sistema de monocultura, é o que dever ser tomado como meta”, assinala o pesquisador.
Outras Soluções:
Promover imediatamente fundos anuais suficientes para reduzir o desmatamento em florestas tropicais;
Proteger a biodiversidade e o modo de vida dos povos indígenas;
Ser protegido contra manobras contábeis nacionais e abordagens de redução de desmatamento;
Não incluir diretamente a comercialização de títulos de carbono;
Não encorajar a substituição de floresta natural por plantadas e não subsidiar a expansão da indústria madeireira, do agronegócio e outras práticas destrutivas em áreas de floresta.
Para protestar contra a derrubada da floresta pela expansão da agropecuária, os militantes do Greenpeace carregaram na marcha de abertura do FSM 2009 um boi inflável de quatro metros de altura, que foi usado semana passada para expor uma área desmatada ilegalmente por fazendeiros de gado dentro da reserva extrativista Verde Para Sempre, em Porto de Moz (PA). Tripulantes do Arctic Sunrise (o navio da ONG, que se encontra em Belém), ativistas e voluntários caminharam junto com outros milhares de representantes de ONGs, sindicatos, movimentos sociais, comunidades indígenas e sem-terra.
Acesse aqui para baixar mapas em alta resolução e imagens do gado na Amazônia.
(Por Efraim Neto, EcoAgência*, 29/01/2009)
*Especial de Belém