Representantes de organizações e especialistas se manifestaram contrários ao projeto hidrelétrico do Rio Madeira. As críticas ao empreendimento aconteceram ontem (28.01), durante encontro que discutiu as formas de implementação da Iniciativa de Integração da Infra-Estrutura Regional Sul-Americana (IIRSA) sem impactos sociais e ambientais às comunidades afetadas pelas obras previstas.
A representante da organização Kanindé, Ivaneide Bandeira, afirmou que a energia a ser produzida pelas hidrelétricas do Rio Madeira será utilizada pela região Sudeste, por meio de um sistema de transmissão que tem construção prevista para levar energia de Porto Velho (RO) a Araraquara (SP).
Outros problemas das obras, de acordo com ela, são: a ausência de consulta aos índios isolados existentes na área afetada pela construção da hidrelétricas, que foram detectados em mapeamento feito pela Fundação Nacional dos Índios (Funai). "Quatro grupos isolados serão afetados pelas usinas do Rio Madeira, sendo que dois deles vivem em estações ecológicas, dentro de áreas antes consideradas por estudiosos como alvo prioritário de políticas de preservação ambiental", explicou Ivaneide.
Ainda segundo ela, os estudos que permitiram o início das obras não foram abrangentes o suficiente para que previssem os reais impactos do empreendimento para ambos os países impactados por tal projeto hidrelétrico binacional, Brasil e Bolívia. Ivaneide afirmou que, do lado brasileiro, serão afetadas 13 terras indígenas, dois parques nacionais, uma Floresta Nacional (Flona) e mais um complexo de Reservas Extrativistas (Resex), não previstas nos estudos que permitiram a licença ambiental para as obras.
Do lado boliviano, por sua vez, um parque nacional também será afetado, mas esse impacto não foi calculado, visto que os estudos não abrangeram toda a bacia hidrelétrica do Maderia, conforma estipulado pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama).
O líder indígena boliviano Egberto Taso disse que é enganosa a idéia de que os povos nativos são contrários ao desenvolvimento econômico. Eles querem apenas, segundo ele, que o progresso não seja alcançado às custas da morte de populações afetadas pelas obras de integração regional na América Latina. "Hidrelétricas, rodovias e portos não beneficiam os indígenas diretamente impactados por essas obras. Nós índios, não viajamos para a Europa", afirmou.
Egberto disse que, atualmente, os indíos por ele liderados preparam um plano de mapeamento dos povos e das culturas indígenas presentes em territórios afetados pelas obras de integração regional hoje planejadas, para que tais informações possam influenciar governantes, à medida que eles tomem conhecimento das populações que poderão ser impactadas por empreendimentos econômicos em áreas de florestas.
Ao fim da rodada de palestras, um abaixo -assinado contra o projeto hidrelétrico do Rio Madeira foi assinado por vários representantes de organizações e ativistas sócio-ambientais.
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(Amazonia.org.br, 29/01/2009)