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consumo sustentável/consciente
2009-01-29

Diante das mudanças climáticas, uma nova consciência se consolida entre os consumidores. Mas apesar da quantidade de informações sobre o assunto, muitos ainda têm dúvidas sobre como fazer suas escolhas individuais de modo a induzir padrões mais sustentáveis no mercado.

De acordo com a pesquisa Monitor de Mudanças Climáticas, realizada pelo HSBC em 12 países, entre eles o Brasil, os consumidores continuam preocupados com o aquecimento global. Menos de 2% dos entrevistados afirmam nunca ter ouvido falar sobre o assunto. Porém, na comparação com 2007, essa preocupação diminuiu. Inclusive, segundo o estudo, houve, nesse período, um declínio nas buscas por "mudanças climáticas" no Google. Para Fábio Feldman, consultor de sustentabilidade, a grande repercussão do assunto em 2007 ocorreu em parte por causa da atenção gerada pelos estudos do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC).

"O ano de 2007 foi particularmente importante devido à divulgação dos relatórios do órgão ligado às Nações Unidas. Houve uma ampla cobertura da mídia. E isso certamente teve um grande impacto. Mas essa atenção acabou se diluindo com o tempo", avalia.

Porém, mesmo em uma época de crise financeira, muitos consumidores ainda estão gastando seu dinheiro em compras que lhes dão esperança no futuro, como mostra o relatório Sustainability: The Rise of Consumer Responsibility, (Sustentabilidade: o Crescimento da Responsabilidade do Consumidor).

Segundo o estudo, realizado nos Estados Unidos pelo The Hartman Group, mais de três quartos dos entrevistados consideram aspectos sociais e ambientais para tomar decisões de compra e um terço paga até mais caro por esse benefício.

Conforme o relatório, 88% dos consumidores se definem como praticantes de comportamentos sustentáveis: 37% acreditam que suas decisões de compra importam muito e 45% avaliam que a decisão é tão importante quanto o voto.

Segundo Andrée Vieira, coordenadora geral do Instituto Supereco, uma parcela significativa da população está preocupada em mudar seus hábitos de consumo, mas ainda não sabe qual a melhor forma de fazê-lo. "Comparado aos últimos dez anos mais pessoas demonstram interesse no assunto, mas não sabem por onde começar. Para resolver essa questão nós precisaríamos de bons programas e iniciativas de educação que ajudem a repensar valores e atitudes", avalia.

De acordo com o The Rise of Consumer Responsibility, a preocupação com as mudanças climáticas ficou em média no terceiro lugar em relação a outros problemas nos 12 países pesquisados - com divergências significativas entre os grupos emergentes e industrializados. Nos mercados em desenvolvimento, a questão foi citada entre o primeiro e o quarto lugar, enquanto nos desenvolvidos aparece entre a segunda e quinta preocupação. Em relação a 2007, o comprometimento cresceu nos mercados desenvolvidos, enquanto a preocupação e comprometimento foram reduzidos nos mercados emergentes.

Na opinião de Vieira, esse tipo de variação está relacionada a outros fatores relevantes nos países em desenvolvimento. "Quando se avalia um país emergente, questões como o aumento de pobreza, saúde, educação e uma série de outros componentes interferem no tema, pois estão ligadas ao próprio desenvolvimento humano. Pode-se ter uma comunidade que desenvolve um projeto interessante, por exemplo, mas sem uma boa estratégia comercial e recursos não há como perpetuar essa iniciativa. As pessoas não conseguem associar as questões ambientais", destaca a coordenadora.

De acordo com Adalberto Veríssimo, pesquisador sênior do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), a diminuição do interesse também pode estar ligada à sensação de "superávit ambiental". "Aqui no Brasil temos muitas florestas e muita água. Existe uma preocupação com as mudanças climáticas. Mas em larga escala, as pessoas ainda acreditam que temos tempo para mudar, pois nossa conta não é deficitária", ressalta.

Lideranças mobilizadoras
A pesquisa Monitor de Mudanças Climáticas também revela a percepção dos consumidores sobre aspectos como liderança na resolução de problemas e ações que deveriam ser tomadas para combater o aquecimento global, sobretudo pelo governo. Em todos os países pesquisados, os consumidores acreditam que o governo precisa ser mais atuante e exercer um papel de liderança no combate ao aquecimento global. A maioria dos entrevistados também vê as companhias menos comprometidas com o tema do que deveriam.

Para Vieira, da Supereco, faltam lideranças pró-ativas e mobilizadoras que prezem pela melhoria do coletivo diante deste desafio. "Deve-se compartilhar expe-riências para se tornar um líder diferenciado, cultuar o trabalho em rede", avalia a coordenadora. Além disso, conforme o Monitor de Mudanças Climáticas, os consumidores acreditam que os governos deveriam estar mais focados em estimular a transição para fontes de energias renováveis, para a prevenção do desmatamento e a conservação da água. Os entrevistados também avaliam que a preocupação com o aumento da taxa dos combustíveis fósseis, os acordos internacionais e estímulo às ações dos indivíduos são pouco eficazes.

Vieira ressalta que as soluções para frear o aquecimento global não podem ser pontuais. "É preciso fazer com que a pessoa vivencie o processo do outro além de integrar estratégias eficientes de grande escala e mexer na legislação. O ideal é aliar estratégias legais e econômicas com o processo de educação do consumidor", propõe.

Para Feldman, a crise financeira internacional trouxe uma boa oportunidade para se repensar os modelos de negócios vigentes, ação que, segundo ele, o governo deve capitanear. "A crise recolocou o papel do estado e do poder público e este é um momento em que surge a oportunidade de induzir efetivamente a mudança de comportamento empresarial. Medidas como a redução de IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) para veículos a álcool - tomada há alguns anos - são importantes, mas não podem ser eventos isolados. Acredito que há um grande espaço para intervenção", avalia.

A preocupação em produzir com baixo custo ambiental, que antes era um diferencial para as empresas, segundo Veríssimo, agora aparece como medida de sobrevivência. "Haverá uma corrida em busca de eficiência energética, o que significa uma mudança no padrão da indústria. Se uma companhia diminuir o investimento na busca por uma matriz de energia mais eficiente, estará condenada a ser obsoleta", propõe.

Desejo de mudança
De acordo com o estudo The Rise of Consumer Responsibility, menos de 25% dos consumidores são capazes de citar um produto que consideram sustentável. Para Feldman, uma solução que geraria mais informações aos consumidores é a análise do ciclo de vida. "Acredito ser importante um esforço entre governo e o setor empresarial para identificar produtos significativos nas cadeias produtivas e a partir disso fazer análise do ciclo do produto. Sem uma informação mais acurada, a escolha se torna difícil e pode não ser a mais acertada."

Segundo o relatório, o papel dos indivíduos ainda está dividido. Nos mercados emergentes, os consumidores acreditam ser menos atuantes do que deveriam, enquanto nos mercados desenvolvidos avaliam ter um papel um pouco maior do que devem. Na maioria das vezes, o comportamento do consumidor ainda está mais baseado em atividades simples e que requerem menos investimento do que em ações efetivas. Poucos mudam hábitos que eles sabem ter um alto impacto ao meio ambiente, mas exigem altos investimentos.

"Acredito que somos desproporcionalmente alertados sobre a nossa pegada ecológica. Algumas ações têm mais apelo porque todos fazem, estão na moda. Mas os hábitos de consumo em larga escala não mudaram, tanto que as emissões continuam subindo", avalia Veríssimo.

Na visão de Feldman, existe uma predisposição do consumidor para fazer as escolhas adequadas, mas ainda não conseguimos gerar as informações e possibilidades que permitam que ele desenvolva atitudes mais conscientes. "Qual a margem de liberdade que o consumidor tem? Por exemplo, abrir mão do transporte individual é algo complicado, pois possuímos um sistema público deficiente. O que temos que fazer é ampliar o repertório de escolhas do cidadão", conclui.

(Por Cristina Tavelin, Envolverde, 29/01/2009)


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