Termômetros marcando 30 C. Inegavelmente um dia de calor, e pouca diferença faz se a marcação chegar a 32 C, certo? Errado. Uma diferença de 2°C na temperatura, ainda mais se for na água do mar, pode fazer a diferença entre um agradável banho e um mergulho de tirar o fôlego no primeiro contato.
A avaliação é do meteorologista Glauco Freitas, da Central RBS de Meteorologia, avisando que a elevação da temperatura da água na Costa catarinense em 2°C – prevista para esta temporada – deve ser sentida pelos banhistas.
– Para cada grau a mais de temperatura, o corpo perde 30% menos energia, o que proporciona a sensação de calor – explica.
O fenômeno, que já chegou ao Rio Grande do Sul, se dá pela permanência da corrente marítima do Brasil, que todo verão vem do Nordeste do país e toma o lugar da corrente fria das Malvinas – que vem do Sul.
Além do aquecimento, o fenômeno deve encher os olhos dos turistas, pois deixa a água mais cristalina. Como já foi observado na praia gaúcha de Imbé. Conhecida como “chocolatão”, a água da região ficou clara, pois está chegando pela corrente do Brasil, e não mais da Antártida.
A diferença na coloração se dá pela diminuição na quantidade de nutrientes. A água escura, que vem do continente gelado, é rica e, portanto, mais escura.Freitas, entretanto, avisa que, apesar dos primeiros efeitos já terem sido observados no estado vizinho, em Santa Catarina eles ainda são previsões:
– Faz parte do ciclo natural das correntes e ventos que isso aconteça em Santa Catarina. Mas, apesar de tudo indicar que os efeitos devem ser sentidos ainda nesta temporada, não sabemos com certeza quando isso ocorrerá.
Previsão relaciona interação entre oceano e atmosferaA temperatura da água no Litoral Centro-Norte pode chegar a 26 °C ainda nesta temporada. De acordo com Freitas, isso indica que a água quente da corrente do Brasil está chegando ao Estado e deve aquecer todo o Litoral. A previsão é feita por meio de modelos que relacionam as interações entre oceano e atmosfera, levando em consideração a temperatura, os ventos e o deslocamento de frentes frias, por exemplo.
– As correntes marítimas podem ser impulsionadas pelo vento para a Costa. Quando o vento Sul é persistente, ele empurra a água quente para o Litoral – esclarece o oceanógrafo do Centro de Informações de Recursos Ambientais e de Hidrometeorologia de Santa Catarina (Epagri/Ciram), Carlos Eduardo Salles de Araújo.
Fenômeno pode deixar verão mais chuvosoDesde o início deste ano, com base nos dados colhidos pelos satélites do Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (CPTEC/Inpe), a média da temperatura da água no Litoral catarinense ficou entre 21 °C ao Sul e 24 °C ao Norte.
– A temperatura influencia vários fenômenos. Mais quente, ela pode acarretar mais evaporação e, consequentemente, mais chuva – compara o oceanógrafo da Divisão de Sensoriamento Remoto do Inpe, Milton Kampel.
Por todo o Litoral brasileiro, a temperatura da água também varia de acordo com as correntes marítimas. No Norte, com a corrente das Guianas, e em parte do Nordeste, com a Sul-Equatorial, a água vem quente do Leste do Oceano Atlântico durante todo o ano.
(
Jornal de Santa Catarina, 29/01/2009)