Você quase consegue ver o fitoplâncton-pai falando para o filhinho: "toma essa aguinha pra ficar forte, filho, que ela tem ferro". Pois é, aquele papo que mamãe usava para nos empurrar o feijão goela abaixo também funciona com essas criaturas marinhas. E a vantagem adicional: isso pode, no futuro, ajudar a combater o aquecimento global.
Um grupo de pesquisadores liderados por Raymond Pollard, do Centro Nacional de Oceanografia de Southampton, no Reino Unido, acaba de demonstrar que regiões do oceano mais ricas em ferro e que tenham quantidade suficiente de nutrientes encorajam a proliferação de fitoplâncton. Essas criaturas unicelulares, por sua vez, podem ajudar a absorver o carbono da atmosfera e armazená-lo nas profundezas do oceano -- aliviando parte do que os seres humanos emitem com suas atividades industriais.
Os resultados do experimento, denominado Crozex e conduzido nas proximidades da Antártida, estão na edição desta semana da revista científica britânica "Nature". Pela primeira vez, os cientistas conseguiram quantificar com alguma certeza o aumento da absorção do carbono por conta desse fenômeno.
Eles demonstraram que uma região naturalmente enriquecida em ferro abriga três vezes mais carbono atmosférico do que uma sem o elemento. Entretanto, também encontraram uma dificuldade para a futura exploração do mecanismo: por alguma razão, por ora ainda não totalmente esclarecida, a tentativa de "enriquecer" o oceano artificialmente com ferro não produz o mesmo sucesso do que um enriquecimento natural.
Além disso, eles apontam que os números, embora positivos, ainda ficam muito aquém das estimativas dos "geo-engenheiros", que propunham usar o fenômeno para tentar reduzir os efeitos da mudança climática. Segundo o grupo, seus números têm "implicações significativas" para idéias como essa, de enriquecer os oceanos com ferro. Não chegam a ser impeditivos, mas sugerem que será preciso aprender muito mais sobre o que acontece e como manipulá-lo até que a coisa se torne praticável.
(Por Salvador Nogueira, G1, 28/01/2008)