Apenas a injeção de partículas na atmosfera para refletir a luz do Sol de volta ao espaço ou a instalação de objetos em órbita, para bloquear a radiação solar, seriam capazes de reverter o aquecimento global ocorrido desde o início da revolução industrial ainda neste século, diz um estudo publicado online pela revista Atmospheric Chemistry and Physics Discussions (ACPD). Os autores, cientistas da Universidade de East Anglia, no Reino Unido, fizeram uma avaliação das chamadas opções de geoengenharia para combater o aquecimento global.
"Geogenharia" é o rótulo aplicado às propostas de manipulação deliberada e em larga escala do meio ambiente. Recentemente, a revista Current Biology publicou uma proposta de substituição de algumas lavouras por outras, que reflitam mais luz solar de volta ao espaço. O trabalho publicado agora na ACPD não se aprofunda em nenhuma estratégia, mas faz uma comparação dos méritos relativos de diversos esquemas propostos nos últimos anos.
"Eu diria que a falta de uma ação global e o agravamento do problema da mudança climática impulsionaram o ressurgimento do interesse em geoengenharia", diz um dos autores do estudo, Nem Vaughan. Os autores, Vaughan e Tim Lenton, calcularam que o uso de "sombrinhas" no espaço, ou de partículas refletoras na atmosfera, tem o maior potencial de reversão rápida do aquecimento global, mas também traz os maiores riscos, por requerer manutenção constante.
Posicionar anteparos no espaço entre o Sol e a Terra exigira a cobertura de uma área inicial de 4,1 milhões de quilômetros quadrados, para bloquear 1,5% da radiação solar e, assim, compensar o excesso de CO2 na atmosfera da Terra. Essa área, no entanto, teria de ser ampliada para dar conta do aumento progressivo do nível de CO2. O artigo estima um aumento de 31.000 quilômetros quadrados ao ano, o que exigiria mais de 130 mil lançamentos anuais de foguetes ao espaço.
Já a injeção de aerossóis - partículas que ficam suspensas no ar - na alta atmosfera exigiria que mais de um milhão de toneladas de enxofre fossem espalhadas no céu. Os autores advertem que essa massa teria de ser constantemente renovada, sob pena de os efeitos do aquecimento global voltarem a se fazer sentir rapidamente.
As melhores opções, de acordo com o artigo, envolveriam medidas menos radicais de geoengenharia, como o uso de "ralos de carbono" - estratégias para capturar e aprisionar o CO2 já presente na atmosfera - e o que os autores chamam de "mitigação forte", que seriam grandes reduções em emissões futuras. Essas combinações poderiam reduzir as temperaturas da Terra a níveis pré-industriais numa escala de séculos.
"Nossa análise mostra que a geoengenharia não é uma 'solução' para a mudança climática, e reforça a necessidade de fortes reduções nas emissões", diz Vaughan. "Nosso trabalho mostra que algumas das opções para remover CO2 da atmosfera podem complementar a mitigação". Medidas para aumentar a quantidade de luz solar refletida ao espaço, estimulando a formação de nuvens ou modificando a superfície da Terra - alterando a composição de lavouras ou intervindo em cidades e desertos - seriam mais eficientes para obter redução no aquecimento em escala meramente local, reduzindo, por exemplo, as "ilhas de calor" das grandes cidades, diz o texto.
"Medidas que removem o CO2 da atmosfera têm benefícios duradouros porque atacam a causa do problema", explica Vaughan. "Já medidas que buscam refletir mais luz solar de volta ao espaço só funcionam enquanto forem mantidas, e não tocam no problema real". Outra proposta anlaisada, um estímulo à captura de carbono nos oceanos por meio da fertilização artificial dos mares, só funcionaria numa escala de milênios, de acordo com o estudo.
Entre as medidas de captura de carbono consideradas mais eficientes, o estudo cita a criação de novas florestas e o reflorestamento. "A segurança das diferentes opções de geoengenharia varia muito, dependendo da opção específica", diz Vaughan, comentando os temores de que intervenções diretas no meio ambiente tenham consequências graves e imprevistas. "A implementação da geoengenharia vai depender do equilíbrio entre os riscos da mudança climática e os riscos da opção escolhida".
(Estadão, 28/01/2009)