Onde foram parar os antiglobalistas? Apesar de a crise financeira ter abalado as certezas dos liberais mais fervorosos, aqueles que há quase dez anos se impunham como uma força ascendente de oposição à globalização liberal, no estardalhaço do primeiro fracasso da OMC em Seattle (EUA), estão ausentes dos debates sobre a reforma do capitalismo, que faz parte da agenda das grandes potências e principalmente do Fórum de Davos, que acontece esta semana.
Oito anos após sua primeira edição em Porto Alegre, o Fórum Social Mundial (FSM) foi aberto na terça-feira (27 de janeiro) para cinco dias em Belém, às portas da Amazônia, voltando para o Brasil após desvios pela Ásia e pela África e um ano "em branco" em 2008, durante o qual o Fórum deu lugar a uma jornada de ação mundial que passou praticamente despercebida. Quase 100 mil pessoas são esperadas na capital do Estado do Pará, sinal da atração que esse espaço único de encontros e debates continua a exercer sobre os movimentos da sociedade civil.
Os antiglobalistas ficaram de fora? "O Fórum Social Mundial é movimentado por uma renovação permanente de organizações que querem se juntar novamente ao processo", garante Catherine Gaudard, do Comitê Católico contra a Fome e pelo Desenvolvimento (CCFD), ao mesmo tempo em que reconhece que o movimento perdeu visibilidade.
Nem todos compartilham desse otimismo. "O movimento se difundiu na América Latina, pois coincidiu ali com uma onda progressista; na Europa, ele logo perdeu o fôlego, e em outros lugares ele não pegou", considera Gustavo Marin, da Fundação para o Progresso Humano, que além disso julga severamente a "produção" do FSM: "Na prática, ela se resume a três documentos"".
"Os mais pobres são as primeiras vítimas do desajuste climático"
De fato, para que a reunião não se limitasse a um grande grito de protesto, em 2005 foram redigidos cadernos de propostas. Mas a iniciativa não foi em frente. "Não haverá uma única voz antiglobalização que nos dê um novo modelo ideal de sociedade. A crise atual nos faz ver com mais clareza o absurdo de certos mecanismos perversos do capitalismo. Mas o outro mundo no qual acreditamos se construirá na diversidade", explica o brasileiro Chico Whitaker, um dos fundadores do Fórum. Ele lembra que a regulamentação mais rígida dos mercados e o controle dos paraísos fiscais são ideias que foram trazidas pelos antiglobalistas.
Se a crise financeira está no centro dos debates, o Fórum 2009 assume, entretanto, uma coloração nova, com a posição concedida à mudança climática e à crise ecológica. "Esse sinal é muito importante. A mudança climática não é simplesmente uma questão ambiental, é com urgência que os movimentos sociais devem tomar conta dela. As populações mais pobres serão as primeiras vítimas do desajuste climático", explica Kátia Maia, da Oxfam International, que vê ali uma oportunidade de reforçar os laços entre ONG de proteção ambiental e movimentos sociais.
É o que também espera Cândido Grzybowski, diretor do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase): "Aqueles que quiserem preservar o ambiente deverão levar em conta o destino das populações". Luta contra o aquecimento, agrocombustíveis e segurança alimentar, acesso aos recursos naturais, dívida ecológica... Não faltam assuntos onde se cruzam o meio ambiente e as lutas sociais. A Amazônia é o melhor símbolo disso, e o Fórum realmente espera ter um peso no debate internacional.
Belém também será a ocasião para se fazerem ouvir milhares de indígenas, representantes desses povos nativos tão pouco considerados nas discussões internacionais. A sobrevivência deles depende de decisões que os Estados tomarão ou não para preservar os grandes ecossistemas planetários.
(Por Laurence Caramel, Le Monde, UOL, 29/01/2009)