Acostumada com a grandiosidade do Círio de Nazaré, festa religiosa que costuma reunir na cidade em todo mês de outubro cerca de 1 milhão de visitantes, a população de Belém assistiu tranquila à passagem das 50 mil pessoas que participaram da marcha de abertura da 9ª edição do Fórum Social Mundial, na tarde desta terça-feira (27/01).
Nem poderia ser diferente: o clima do evento foi da mais absoluta descontração. Nem mesmo a chuva que despencou sobre as cabeças dos manifestantes de organizações de todo o mundo já no início da caminhada - diz a lenda que, em Belém, nessa época do ano, chove todos os dias, às 15h - foi capaz de silenciar os tambores que tocavam os mais diferentes ritmos.
A diversidade da marcha chamou a atenção da senadora Fátima Cleide (PT-RO).
- É uma emoção muito grande ver a diversidade cultural e política aqui representada. Eu tenho certeza que esse evento contribuirá, e muito, para que o mundo se dê conta da vida inteligente que existe na Amazônia e a necessidade que todos temos de formar uma grande corrente em defesa desse patrimônio - disse.
Entre homossexuais e religiosas de hábito que dançavam juntos sob a chuva, o clima era mesmo de festa. Porém, para além da celebração, o propósito do Fórum é chamar a atenção para algumas questões sobre as quais nada há para se comemorar. É o que lembrou o senador José Nery (PSOL-PA), que fazia parte da comitiva pela erradicação do trabalho escravo.
- Temos a esperança de que nossa participação nesse fórum se constitua num importante movimento de apresentação para o universo dessa tragédia que é a existência da escravidão no Brasil, no sentido de ampliar a mobilização para a erradicação dessa chaga social - disse.
O senador, presidente da Subcomissão Temporária de Combate ao Trabalho Escravo do Senado, explicou que um dos principais objetivos da Frente Nacional de Combate ao Trabalho Escravo no FSM é ampliar o número de assinaturas de apoio à Proposta de Emenda à Constituição 438/2001, que prevê o confisco de terras onde sejam encontrados trabalhadores em situação análoga à de escravo. Até agora, o movimento reuniu cerca de 300 mil assinaturas.
Para o motorista de táxi Jorge Morais da Silva, o balanço do dia de trabalho foi positivo.
- Eu acho importante a sociedade civil se manifestar, reivindicar seus direitos, e se isso puder acontecer assim, de forma pacífica, melhor ainda. Nós vivemos em um mundo muito bonito, mas muito desigual - destacou.
(Por Raíssa Abreu, Agência Senado, 27/01/2009)