Mapeamento feito pela Fundação de Meio Ambiente de Santa Catarina revela: 41% do estado são cobertos por vegetação nativa. Número é muito superior ao de Inpe e SOS Mata Atlântica.
No último mês do ano passado, a Fundação do Meio Ambiente de Santa Catarina (Fatma) divulgou o resultado do mapeamento de ocupação da terra no estado. O trabalho, que levou dois anos para ser concluído, deixou muitos ambientalistas impressionados: 41,4% do território seriam ocupados por vegetação nativa, formada por florestas primárias ou em regeneração média e avançada.
Os números são muito superiores aqueles verificados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) em parceria com a SOS Mata Atlântica e publicados em maio de 2008. Segundo essa pesquisa, apenas 23,87% da terra onde nasceu Gustavo Kuerten são cobertos pelo verde tropical.
Apesar da satisfação governista com os dados da Fatma, uma dúvida ficou no ar: por que a diferença tão grande entre os mapeamentos? “Ainda não conheço o trabalho realizado pelo governo do estado, mas sei que eles observaram todo o uso da terra. Nós, ao contrário, analisamos apenas a cobertura vegetal nativa, mangue e restinga”, explica Márcia Hirota, diretora de Gestão do Conhecimento da SOS Mata Atlântica.
Ela tem razão. De acordo com o levantamento feito pelo órgão de proteção ambiental catarinense, o território também conta com 31,17% de campos naturais e pastagens, 16,05% de agricultura e 7,27% de reflorestamento. O restante é dividido entre área urbanizada, corpos d’água, várzeas e restingas, floresta em estágio inicial, solo exposto, mineração e mangue.
“Adquirimos as imagens de satélite de diferentes fontes. Elas foram tiradas entre o final de 2005 e o início de 2006. Um período de seis meses, aproximadamente. E, se somarmos a área de floresta com a de campos e pastagens dá mais de 70% do território do estado. Podemos dizer, por isso, que Santa Catarina é bem preservada, onde não há maiores problemas”, diz Carlos Leomar Kreuz, presidente da Fatma.
Durante dois anos, os técnicos da fundação estudaram os mapas e fotografias adquiridos com o incentivo do banco alemão KFW, que investiu 1,2 milhão de reais no projeto. O mapeamento do governo do estado foi elaborado a partir de imagens do Spot 4, um satélite francês que atinge 20 metros de resolução espacial para imagens coloridas e 10 metros para fotos pan-cromáticas (com tons de cinza). Ao todo, os funcionários da Fatma visitaram 920 pontos de amostragem em todo o estado para conferir os resultados obtidos com escala de visualização de um para 30 mil (1:30.000).
Metodologias diferentes
Segundo Marcia Hirota e Carlos Kreuz, a diferença de metodologia usada nos estudos da SOS e da Fatma é o fator fundamental para resultados tão díspares. A não-governamental, por exemplo, usou imagens dos satélites CBERS (que também gera imagens em cores com 20 metros de resolução espacial) e Landsat 5, capaz de tirar fotografias com 30 metros de resolução. Os dois equipamentos são usados pelo Inpe em análises do desmatamento na Amazônia, por exemplo.
A principal explicação para os distantes números, no entanto, é o número mínimo de hectares das áreas investigadas. Enquanto a SOS viu propriedades com pelo menos cinco hectares, a Fatma analisou terras com metade do tamanho, ou 2,5 hectares. “Santa Catarina tem 89% de seu território coberto por pequenas propriedades, de até 20 hectares. E há muitas áreas abaixo de cinco hectares. É possível que esse tenha sido o grande motivo para vermos muito mais cobertura vegetal do que o outro (da SOS) levantamento”, afirma Kreuz.
De acordo com Hirota, no entanto, é muito difícil comparar dados com ferramentas, métodos e pessoas diferentes. “Acho que, independente do número, o mais importante é o esforço de todo mundo. A SOS e o Inpe vêm verificando muita supressão de florestas em Santa Catarina nos últimos anos. Então, é fundamental que esse trabalho venha com fiscalização e controle efetivo do poder público, tanto estadual quanto municipal”, explica.
Questionado sobre as conclusões do estudo, Carlos Kreuz diz que o trabalho de análise dos resultados está apenas começando e irá durar o ano inteiro. “Vamos detectar onde há problemas ambientais e promover ações de preservação”. Pelo visto, essa medida é mais do que necessária.
Segundo dados da SOS, nas últimas quatro edições do Atlas de Remanescentes Florestais, houve taxas elevadas de desmatamento em Santa Catarina. Na última temporada, por exemplo, o estado computou um acréscimo de 7% no desflorestamento, enquanto São Paulo apresentou queda de 91%. “Santa Catarina é o estado que, proporcionalmente, tem o maior índice de Mata Atlântica original. Por isso, ainda tem o que desmatar, ao contrário de São Paulo, que já derrubou quase tudo. Mais um motivo para reforçar a conservação” assegura Márcia Hirota.
Agora em maio, Inpe e SOS Mata Atlântica lançam um novo mapa de remanescentes do bioma para o ano de 2008. Mesmo que os números para Santa Catarina se aproximem dos verificados pela Fatma, é sempre melhor que as taxas de desflorestamento tenham caído.
(Por Felipe Lobo, OEco, 27/01/2009)