A crise econômica coloca as empresas diante de uma espécie de escolha de Sofia entre preservar o caixa ou investir em programas de redução com ecoeficiência de custos com água, energia ou matérias-primas. O dilema é real. Mas, como lembra Beatriz Bulhões, diretora do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (Cebds), é preciso levar em conta que a própria crise mostra que o modelo atual está em ruínas. Ou seja, ela acredita que não vai bastar pisar no freio e esperar pela retomada do crescimento, porque a economia que vai emergir depois da crise será outra. "O mundo está mudando", lembra, utilizando uma imagem do discurso de posse de Barack Obama.
Há uma diferença entre apenas enxugar custos e em utilizar os instrumentos da ecoeficiência e da sustentabilidade para repensar os negócios. "Só enxugar é pensar no agora; com a sustentabilidade, o foco é o futuro", salienta. A avaliação de Beatriz não é exclusiva, já que, no final do ano passado, pesquisa realizada durante a reunião anual do World Business Council for Sustainable Development (WBCSD) com cerca de 200 empresas globais mostrou que, para 59% delas, as políticas de ecoeficiência e de sustentabilidade eram uma resposta eficiente à crise e criariam novas oportunidades de negócios.
Não há, diz a diretora, um levantamento consolidado do quanto as empresas podem reduzir gastos quando calçam suas decisões no pilar da sustentabilidade. Existem exemplos diversos, como de empresas que conseguiram reduzir seus custos com água em até 90%.
Segundo a Agência Nacional de Águas (Ana), o desperdício de água no país chega a 40% - o dobro da perda aceitável internacionalmente. Em termos globais, a indústria é responsável por 22% de toda a água doce consumida. Alguns setores são especialmente gastadores, como o aço. Antes da Segunda Guerra Mundial, eram necessárias entre 60 toneladas e 100 toneladas de água para produzir uma tonelada do metal. Hoje, são gastas seis toneladas. Entretanto, o consumo ainda é alto quando o comparamos com o de outros setores, como o de alumínio, que gasta 1,5 tonelada de água.
No Brasil, acredita Beatriz, a maior parte das grandes indústrias tem programas de reaproveitamento de água, uma vez que ela se torna cada vez mais rara e cara. Enfim, a escassez é uma oportunidade. Pelo menos é assim que vê o problema (ou mercado) a General Water. Na grande São Paulo, onde a GW atua, a oferta de água é de 200 metros cúbicos por habitante e, segundo a Organização Mundial de Saúde, o mínimo aceitável é de 2.500 metros cúbicos por habitante.
Logo, garantir abastecimento contínuo e de qualidade será cada vez mais estratégico para as empresas. E é isso que a GW se propõe a fazer para seus clientes, que são grandes consumidores privados (consumo mínimo de 10 mil metros cúbicos por mês), como indústrias, shopping centers, condomínios, clubes, hospitais, universidades e centros empresariais.
A empresa oferece uma redução de custos entre 15% e 20%, na comparação com os preços cobrados pela Sabesp. Na prática, os clientes da GW fecham a ligação com a água da rua, porque a GW constrói sistemas de captação e tratamento de águas subterrâneas - que são, por definição, renováveis -, além de reformar ou ampliar estruturas já existentes e instalar sistemas de reuso de água. Enfim, captação, tratamento e racionalização do uso.
Além da redução de custos, há outro importante atrativo financeiro: a GW assume todos os custos e riscos do investimento, desde os primeiros estudos de prospecção no terreno até a instalação da última engrenagem do projeto. "O risco do nosso negócio é este, de não achar água. Muitos dos nossos clientes acabam nos procurando depois de não terem conseguido encontrá-la", afirma. Mas quando há água (e o poço pode chegar a 600 metros de profundidade), a GW assina um contrato de longo prazo de fornecimento, de dez anos.
Na área de energia, dados preliminares da Eletrobrás indicam que a indústria é ainda a grande campeã em desperdício, jogando fora cerca de 30% da energia que recebe. Até 2015, com o Procel, o governo pretende reduzir a demanda de energia em 130 bilhões de kWh, com ganho líquido para o país de R$ 34 bilhões. Uma boa parte dessa redução será possível com a utilização de equipamentos mais modernos.
No caso de ar condicionado e de equipamentos de refrigeração, a Danfoss aponta que é possível economizar até 30%, já que, nas palavras de Peter David Young, diretor de vendas da divisão de refrigeração e ar condicionado, "não é mais como no passado, onde o equipamento funcionava a plena carga ou era desligado. Hoje, podemos racionalizar o uso, o que gera uma importante economia".
Segundo o executivo, o diferencial competitivo da Danfoss é o uso de novas tecnologias para reduzir o consumo de matérias-primas e de energia, causando o menor impacto possível sobre o meio ambiente. Multinacional com origem na Dinamarca e líder em pesquisas de desenvolvimento, produção e venda de componentes mecânicos e eletrônicos para diversos segmentos da indústria, a companhia atua nos segmentos de refrigeração e ar condicionado, aquecimento e água e controles de movimento. Agora, a aposta tecnológica é no uso do gás carbônico como gás refrigerante. "O processo é 100% natural e sustentável. Já é utilizado na Europa e está de acordo com a legislação ambiental."
Em 2009, acredita Young, "o mercado vai continuar crescendo, mas a um ritmo menor". No ano passado, as vendas da Danfoss aumentaram 20% e, neste ano, devem ter incremento de 10%. O setor de supermercados será o principal responsável por este comportamento. "Eles já nos disseram que os investimentos serão mantidos", garante o executivo. De fato, não é de hoje que as vendas para Wal-Mart, Carrefour e Pão de Açúcar têm tido um bom desempenho para a companhia. Entre 2006 e 2008, o crescimento foi de 75%.
A maior redução de investimentos será, afirma Young, no setor de carnes, abatido pela redução das exportações, apesar de o câmbio ter ficado mais favorável. "Mas nós acreditamos em uma recuperação para o segundo semestre."
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Valor Econômico, 27/01/2009)