O Brasil vai ajudar países africanos no monitoramento de suas florestas tropicais, oferecendo imagens de satélite e treinamento a técnicos, para que possam realizar naquele continente acompanhamento semelhante ao que o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) faz da devastação na Amazônia. "Queremos fazer um Deter africano", anima-se o diretor do instituto, Gilberto Câmara. Deter é a sigla para Detecção de Desmatamento em Tempo Real, sistema que faz o registro oficial do desmatamento na Amazônia e cujos dados são usados no mapa interativo do Globo Amazônia.
A República Democrática do Congo, por exemplo, tem a segunda maior floresta tropical do mundo e também enfrenta problemas com a exploração madeireira, mineração e expansão agrícola. Na semana passada, o governo do país cancelou dois terços dos contratos de madeireiras que operavam em suas matas, após verificar que elas não tinham cuidados ambientais mínimos.
Antenas - O primeiro passo para a implantação de um sistema de vigilância da floresta como o Deter (que fornece dados também ao mapa interativo do Globo Amazônia) na África é a instalação de antenas para a recepção de imagens no continente. "Vamos estender a cobertura do Cbers (satélite sino-brasileiro) para a África", explica Câmara.
Atualmente, já existem três receptores na África para receber o sinal do Cbers – no Egito, na África do Sul e nas Ilhas Canárias (que pertencem à Espanha). O problema é que estes pontos não são adequados para o monitoramento da floresta tropical, que se situa em alguns dos países mais pobres do continente, como Gana, Quênia e Gabão.
"Estamos em negociação com estes países, mas eles não têm recursos para instalar os receptores. Estamos buscando fontes de financiamento externas", comenta Câmara. Segundo o diretor, o contato com os países africanos tem sido positivo, pois eles veem com muito bons olhos o apoio brasileiro. "Nossa política é não-comercial", diz, enfatizando que as imagens produzidas pelos satélites sino-brasileiros são cedidas gratuitamente. Depois que for lançado, em 2011, o satélite Amazônia-1 também transmitirá dados para a África.
Centro de formação - Outra forma de apoio aos países africanos será a formação de técnicos capazes de interpretar as imagens vindas do espaço no novo centro do Inpe em Belém (PA), a ser inaugurado ainda em 2009. "A unidade já está operando, mas ainda falta terminar algumas coisas para que possamos inaugurá-lo oficialmente", explica Câmara.
Na capital paraense, o instituto vai treinar pessoal especializado na análise de informações sobre florestas tropicais. A localização é estratégica, pois facilitará o trabalho de campo. Segundo o diretor do Inpe, é fundamental que os novos profissionais tenham muita experiência dentro da mata para fazerem bem seu trabalho. "Manteremos ali de 40 a 50 pessoas com formação de mestrado ou doutorado", informa.
O objetivo da nova unidade é fazer com que o monitoramento da Amazônia evolua de maneira a permitir não só a detecção do desmatamento, como também a evolução do uso do terreno. "Hoje o Inpe não está conseguindo responder se a área desmatada virou campo de soja, de criação de gado, ou se simplesmente alguém tacou fogo e largou lá. Junto com a Embrapa, queremos responder a esta pergunta", observa Câmara. "Este foi, inclusive, um pedido do ministro da Agricultura (Reinhold Stephanes) – saber quem está desmatando".
O diretor do Inpe explica que o novo centro de Belém será designado o centro de referência para o trabalho do instituto com os países africanos.
(Por Dennis Barbosa, G1, Ambiente Brasil, 27/01/2009)