A atual crise financeira afetará fortemente o mercado de produtos produzidos com madeira certificada. Empresas brasileiras do setor já apresentam acúmulo em seus estoques já que os maiores compradores de produtos com o chamado selo verde estão preferindo os materiais sem certificação, que pode custar até 20% menos. Segundo especialistas, o mercado é pressionado por empresas com altos estoques e volumes de madeira que precisam ser comercializadas e não foram devido à crise que o mercado passa.
"Ocorreu uma queda do ritmo de vendas nos últimos quatro meses, parte por ser final e inicio de um novo ano e parte por questões de mercado relacionadas com a crise", afirma Leandro Guerra, da Precious Woods, empresa que teve em seus estoques um aumento de 60% e que possui 450 mil hectares certificados na Amazônia.
De acordo com Guerra, auxiliaram para esse índice negativo a queda no ritmo das construções, as preocupações com futuro e as reduções de compras. Isto tudo de forma geral afetou o mercado de madeiras.
No caso especifico das certificadas, há algumas vantagens de mercado considerando-se que é uma madeira que tem um maior respeito quanto a sua legalidade e sustentabilidade, portanto o mercado busca estas madeiras e tem uma comercialização crescente.
"A verdade é que também as madeiras certificadas tem sido em parte afetadas, mas não o tanto que a madeira não-certificada. Algumas ações podem justificar isto como a preocupação crescente com a legalidade e compra de produtos e madeiras da Amazônia com origem legal, outra por acordos comerciais que envolvem governos", diz Leandro.
Karina Aharonian, coordenadora do projeto Compradores de Produtos Florestais Certificados, da Amigos da Terra - Amazônia Brasileira, acredita que as empresas, diante de uma perspectiva praticamente nula de comércio, começarão lentamente a abaixar os preços de seus produtos. "Isso pode ajudar na desova do material, mas por outro lado pode também abrir precedentes de preços que não poderão ser mantidos, ou uma busca pelo mercado nacional e posteriormente, quando a situação econômica melhorar, estas empresas novamente apostarão no mercado internacional que paga mais", conta ela.
Atualmente o Brasil possui cinco milhões de hectares certificados com o selo do Conselho de Manejo Florestal (FSC na sigla em inglês). Somente na cadeia de madeira certificada estão envolvidas 1,2 milhão de pessoas, muitas das quais vivem em comunidades no interior das florestas e buscaram a certificação para atender um nicho de mercado. Essas comunidades agora não encontram interessados em seus produtos. FSC.
Para Guerra, a saída para as empresas se manterem competitivas nesse período passa pelo aumento de eficiência nos processos produtivos, diminuição de custos e busca de novos mercados, oferecendo produtos novos.
"Mais um grande passo para as empresas é provar sua legalidade, sustentabilidade e trabalhar com a certificação buscando participar de acordos que garantam um mercado mais solido e regular como no caso das madeiras certificadas".
Karina observa, contudo, que "existem produtos certificados -principalmente quando consideramos as plantações- que têm um preço muito semelhante ou até igual ao de produtos sem o selo e, talvez, quando o povo brasileiro assimilar culturalmente a sustentabilidade, estes serão produtos que podem ser consumidos sem afetar o bolso de ninguém". E isso pode ser observado pela quantidade de produtos que vem sendo vendida em embalagens certificadas e que estão ao alcance de todos nos supermercados.
Guerra acredita que a atual crise oferece um novo momento para buscar novos espaços e mostrar um novo modelo de trabalho com sustentabilidade. Para ele, 2009 será um ano de desafios, de buscar a consolidação da certificação e mostrar que as empresas que atuam nessa linha são um caminho para a sustentabilidade e uma garantia para o consumidor de participar disto. "Este acredito deve ser o grande foco para a certificação e seu desenvolvimento, acredito no mercado crescente, talvez mais lento do que antes mais solido e que teremos varias empresas buscando a certificação em todo o mundo".
(
Amazonia.org.br, 27/01/2009)