O projeto do Complexo Turístico Residencial Quinta dos Ganchos estima uma população de até 75 mil habitantes caso todas as instalações do empreendimento funcionem plenamente. O crescimento seria gradativo e demoraria dez anos para atingir a capacidade total, conforme consta no Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) do complexo, que foi planejado pelo grupo espanhol Atlântica Brasil Golf & Resort Investimentos.
A propriedade adquirida para o Quinta dos Ganchos fica em Governador Celso Ramos (SC), a 35 quilômetros ao norte de Florianópolis. Se a construção for autorizada, o empreendimento levaria três anos para ser erguido e já teria, no primeiro ano de funcionamento, 6.818 habitantes.
Esse valor representa 54% da população total de Governador Celso Ramos, que teria chegado a 12.611 pessoas em 2008, segundo estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) - em 2001, eram 11.598 habitantes. O município já poderia dobrar de tamanho no segundo ano de operação do Quinta dos Ganchos, quando a população do empreendimento alcançaria a marca de 13.636 pessoas.
O grupo espanhol planeja contratar cerca de 510 trabalhadores para as obras. Para a fase de operação, são previstos até 10 mil empregos diretos, com salários entre R$ 700 e R$ 10.000, e outros 15 mil indiretos.
A Atlântica Brasil priorizará a contratação de moradores de Governador Celso Ramos e das cidades vizinhas de Biguaçu e Tijucas para tentar diminuir a vinda de imigrantes à região e o surgimento de ocupações irregulares. Outra medida será a construção de uma vila de trabalhadores nos arredores do empreendimento.
Compensações
A área de 12,3 milhões de metros quadrados do Quinta dos Ganchos representa 13% da área total de Governador Celso Ramos e ficava na zona rural do município até a publicação da Lei Municipal nº 584, em 6 de maio de 2008, que a transformou em Área de Expansão Urbana e de Especial Interesse Turístico. Deste modo, a construção do complexo passou a ser permitida pela prefeitura.
De acordo com o artigo 5º da lei, a Atlântica Brasil se compromete a negociar medidas mitigadoras e de compensação social com os órgãos licenciadores. O grupo espanhol deve investir R$ 30 milhões em obras de saneamento básico, em parceria com poderes públicos, para atender todo o município, que hoje não dispõe de rede de coleta de esgoto – na maioria dos casos, os resíduos são lançados nos cursos de água e no oceano.
O governo de Santa Catarina, por exemplo, teria prometido investir R$ 620 milhões em áreas de infraestrutura. Esses recursos estaduais já fariam parte dos R$ 2,5 bilhões previstos para a construção do Quinta dos Ganchos.
O artigo 4º da Lei Municipal Nº584/08 também obriga o grupo espanhol a construir outras obras de interesse público e social, como escolas, centro administrativo, sede da Câmara Municipal, melhorias em vias urbanas e reurbanização de espaços públicos. Foram determinados o valor de R$ 5 milhões e o prazo de 6 anos e meio.
A Atlântica Brasil deve desembolsar, no total, R$ 60 milhões em compensações, o que representa quase 70% do PIB de Governador Celso Ramos (R$ 87, 3 milhões em 2006), cujas principais atividades econômicas são pesca, turismo e serviços. Só o valor dessas compensações já supera o investimento de R$ 45 milhões do Condomínio Residencial Costão Golf, um dos principais projetos turísticos-residenciais de Florianópolis.
Sem comparação
A previsão de que o Quinta dos Ganchos terá investimentos totais de R$ 2,5 bilhões e criará 25 mil empregos diretos e indiretos também supera grandes projetos industriais em Santa Catarina. A General Motors, por exemplo, aplicará R$ 350 milhões em uma fábrica de motores em Joinville, com abertura de 1.800 vagas diretas e indiretas.
Líderes no mercado nacional de fertilizantes, a Bunge e a Yara criaram a Indústria de Fosfatados Catarinense para explorar uma jazida de fosfato e implantar uma fábrica em Anitápolis, município de 3 mil habitantes da Grande Florianópolis que está encravado na Mata Atlântica. As multinacionais investiriam R$ 565 milhões e criariam 2 mil empregos diretos e indiretos.
(Por Rodrigo Brüning Schmitt, Ambiente JÁ, 27/01/2009)