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emissões veiculares coleta seletiva desmatamento
2009-01-27

A capital paulista completou ontem (domingo) 455 anos. Os festejos, no entanto, deveriam ser acompanhados de maior preocupação com aspectos que pesarão cada vez mais no futuro da cidade, como a questão ambiental. Os números oficiais refletem o tamanho do problema.

Segundo último levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), São Paulo beira os 11 milhões de habitantes. As áreas verdes da cidade, por sua vez, não conseguem suprir tamanha demanda.

Dados da Secretaria Municipal do Meio Ambiente mostram que a área verde de São Paulo cobre aproximadamente 40% de seu território. Desses, 21,3%, ou 32.128 mil hectares, são de mata nativa. Os outros cerca de 19% são referentes a qualquer vegetação, como jardins, parques e canteiros. Da porcentagem de mata nativa, 7.733 mil hectares ficam em áreas protegidas, como os parques da Cantareira, Guarapiranga, Jaraguá, Serra do Mar e Horto florestal.

Os números, no entanto, são controversos. Segundo a não-governamental Fundação SOS Mata Atlântica, São Paulo não possui mais que 24.191 hectares de remanescentes dessa vegetação, ou apenas 16% do território da cidade. Somente entre 2000 e 2005, cerca de 6% das matas paulistanas foram colocadas abaixo.

Dados preliminares do Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica, que deve ser lançado em maio pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e SOS Mata Atlântica, mostram que o desmatamento disparou nos últimos anos, inclusive na Região Metropolitana da capital, uma área compreendendo 39 municípios.

Como adiantou O Eco, nessa área foram desmatados 437 hectares nos últimos três anos, número nove vezes maior que o verificado entre 2000 e 2005, quando o desmatamento consumiu 48 hectares de vegetação.

Nesse total, estão contabilizados os 201 hectares desmatados legalmente para a construção do Rodoanel, que contornará o centro da região metropolitana e promete ser uma das soluções para o problema dos congestionamentos-monstro verificados na capital. Os outros 236 hectares desmatados encontram-se, principalmente, na região da Cantareira, responsável por abastecer com água mais da metade da população urbana.

“São Paulo não tem o que comemorar quando o assunto é sua cobertura vegetal. Na verdade, ela está muito aquém do que deveria ser. Por isso, todas as áreas verdes, como os parques, precisam ser preservados”, diz Márcia Hirota, diretora de Gestão de Conhecimento da SOS Mata Atlântica.

Vias intransitáveis, ar irrespirável
No último ano, o número de carros em São Paulo aumentou exponencialmente, reduzindo ainda mais a velocidade de deslocamento da frota. Em novembro, último mês em que o Departamento Estadual de Transito (Detran/SP) contabilizou a frota paulistana, circulavam pela capital mais de 6,3 milhões de veículos. O congestionamento recorde foi registrado em maio, com 266 quilômetros, mas quase diariamente o morador da capital convive com essa situação.

Com os grandes congestionamentos, o motor fica ligado por mais tempo, cuspindo mais poluição. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a concentração de partículas poluentes no ar não deve ultrapassar dez microgramas por metro cúbico (mg/m³). A média paulistana gira em torno de 28 mg/m³ e, em horários de pico e de congestionamentos, o ar da marginal do Rio Tietê chega a concentrar 140 mg/m³ de partículas poluentes.

Para os que usam o transporte público, a situação não é menos trágica. Nos corredores de ônibus, a poluição pode chegar a 120 mg/m³. Isso significa que, se o passageiro passa duas horas dentro do ônibus, andando pelos corredores, ele “fuma” cerca de três cigarros. Segundo pesquisas da Universidade de São Paulo (USP), 19 pessoas morrem todos os dias na capital por problemas decorrentes da poluição do ar. As perdas causadas por essas mortes chegam a 1 bilhão de reais por ano.

Apesar dos números negativos, o patologista Paulo Saldiva, coordenador do Instituto da USP, acredita que a capital tenha motivos para comemorar. Isso porque, mesmo com os altos números de veículos e da poluição produzida por eles, São Paulo conseguiu melhorar sua qualidade do ar com o Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores (Proconve). “Entre 1995 e 2005, cerca de 1.500 pessoas por ano deixaram de morrer por conta da melhoria na qualidade do ar trazida pelo Proconve”, diz o pesquisador. No entanto, Saldiva ressalta que muita coisa ainda precisa ser feita. Diminuir a concentração de enxofre no diesel é uma delas.

Água e lixo
Se os números da qualidade do ar em São Paulo são ruins, os do lixo são ainda piores. Todos os dias, os paulistanos produzem de 10 a 12 mil toneladas de lixo, se forem contabilizados entulhos, a cifra salta para 15 mil toneladas. Desta montanha, apenas 1% está inserido na coleta seletiva promovida pelo poder público municipal.  Segundo Elisabeth Grimberg, coordenadora de Ambiente Urbano do Instituto Pólis e do Fórum Lixo e Cidadania, cerca de 20% do lixo produzido em São Paulo não chega a ser coletado convencionalmente, o que representa 60 mil toneladas por mês. Do total coletado, oito em cada dez quilos precisa ser levado para aterros fora da cidade, já que os da capital estão esgotados.

E olha que não faltam recursos para São Paulo cuidar de seus resíduos sólidos. Em 2008, a Secretaria Municipal de Serviços contou com orçamento de pouco mais de 939 milhões de reais. Cerca de 63%, por volta de 597 milhões de reais, foram destinados somente para coleta, transporte e alocação dos resíduos sólidos da cidade. Desse total, somente 0,7% foi para reciclagem.

“Não temos motivos para comemorar nesta área. A situação está estagnada desde final de 2004. Continuamos com as mesmas 15 centrais de catadores que foram criadas na época e operam oficialmente na capital e estamos com um quadro de esgotamento de aterros. São Paulo precisa mudar sua concepção de gestão de resíduos sólidos”, diz Elisabeth.

A má gestão da água na região metropolitana também tem causado sérios problemas. A baixa disponibilidade do recurso na região foi acentuada ao longo de sua história em função da poluição e da destruição de seus mananciais, entre eles os rios Tietê, Pinheiros, Ipiranga, Anhangabaú e Tamanduateí.  Hoje, a região é obrigada a importar água e a investir em sistemas de tratamento avançado para transformar água de péssima qualidade em água potável.

Atualmente, a região metropolitana da capital importa mais da metade da água que consome da Bacia do Rio Piracicaba, através do Sistema Cantareira, que está a mais de 70 quilômetros do centro de São Paulo e conta com seis represas interligadas por túneis. O restante da água é produzida pelos mananciais que ainda restam na região, em especial Billings, Guarapiranga e cabeceiras do Rio Tietê. Todos sofrem intenso processo de ocupação, a despeito da Lei de Proteção aos Mananciais estar em vigor desde 1975.

Aos 455 anos, uma das maiores metrópoles do globo tem a chance de olhar com mais carinho para seu futuro, tornando seu presente mais verde.

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(Por Cristiane Prizibisczki, OEco, 26/01/2009)


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