Polêmica adia decisão sobre plantio para produção de etanol na regiãoO governo ainda não decidiu se vai ou não liberar o cultivo de cana-de-açúcar para produção de álcool no Planalto Pantaneiro, região de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul cortada por rios que deságuam no Pantanal. A informação foi dada pelo ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, que defende a inclusão da área no novo zoneamento agroecológico da cana. Segundo ele, a indefinição, que opõe usineiros e ambientalistas, é o último obstáculo ao anúncio do novo mapa da cana no país.
O assunto foi discutido na quarta-feira em reunião no Palácio do Planalto entre o presidente Lula e cinco ministros.
De acordo com Stephanes, a permissão do cultivo na região não ameaçaria a proteção do Pantanal, o que é contestado por ONGs de defesa do meio ambiente. O ministro da Agricultura insistiu que não há risco de contaminação das águas pelo vinhoto, o resíduo resultante da produção do álcool, e disse que há exagero na preocupação com a área.
- O Pantanal tem um entorno.
É o tal planalto. Se descuidar, chega até aqui (a Brasília).
Se usar com muita rigidez alguns conceitos, tudo o que eu faço aqui em Brasília vai acabar no Rio Paraguai, em Foz do Iguaçu - argumentou o ministro.
Stephanes afirmou que, se o cultivo de cana na região for liberado, o governo deve revogar uma resolução do Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama) que impede a instalação de qualquer usina de álcool na Bacia do Alto Paraguai. Presidente do órgão, o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, já afirmou em diversas ocasiões que a resolução não seria revogada.
Ele chegou a dizer que iria à região com fiscais do Ibama para embargar qualquer tentativa de construção de usina.
Para Stephanes, a resolução do Conama não é irrevogável: - A Constituição brasileira, que foi elaborada em 1988, tinha pelo menos 200 itens que criavam problemas de desenvolvimento e foram alterados.
Quem altera 200 itens da Constituição também altera, se for o caso, uma resolução do Conama.
Não faz nenhum sentido manter esse argumento.
Após a reunião no Palácio do Planalto, Minc declarou que o zoneamento estava pronto e que o plantio não seria permitido na Amazônia e no Pantanal.
Procurado, o ministro não esclareceu se houve decisão sobre o Planalto Pantaneiro.
O biólogo Alcides Faria, diretorexecutivo da ONG Ecoa, reclamou de falta de transparência na discussão do zoneamento.
Ele disse que a liberação da cana na região pode provocar danos irreversíveis ao Pantanal: - Seria um crime contra a humanidade. Para cada litro de álcool, são produzidos de 12 a 15 litros de vinhoto. A probabilidade de acidente ambiental é muito grande.
(Por Bernardo Mello Franco,
O Globo, 25/01/2009)