Não fosse por uma curva fechada do outro lado da rua, em frente à casa onde mora de aluguel, Paulo Lima Barcelos, 44 anos, poderia ver o que sobrou do antigo endereço. A casa, comprada em 1996 na Rua Germano Grosch, foi uma das engolidas por deslizamentos de terra no Morro Coripós. Sem ter para onde ir, Barcelos e o irmão alugaram uma das poucas moradias daquele trecho que resistiram à ação das chuvas de novembro.
Pagam R$ 340 por mês pelo imóvel de madeira. A casa fica em uma das 84 áreas de risco do município e deveria estar desocupada desde o dia 7 de janeiro, segundo decreto da prefeitura. A medida de segurança ocorre em função de o solo destes locais ainda apresentar movimentação, conforme levantamento do Centro de Apoio Científico em Desastres (Cenacid) da Universidade Federal do Paraná.
Barcelos não foi o único a desacatar a recomendação do município. Em outras áreas de risco, como nas ruas Antônio Zendron e transversais a partir da Valéria Hostins, e Araranguá, moradores se recusam a deixar as casas. Seja por não ter para onde ir ou não temer o perigo.
– Deus guarda – reza Rosangela Paiva de Oliveira, 53 anos, moradora da Rua Araranguá.
Outros dizem não saber que a rua é considerada área de risco.
– Ninguém passou aqui avisando sobre a desocupação – reclama Izolete Navarro, 45 anos, moradora da Rua Valéria Hostins.
Com base no estudo técnico preliminar elaborado pelo Cenacid, a prefeitura determinou no decreto que estes locais sejam desocupados por no mínimo 90 dias – de 7 de janeiro a 7 de abril. Também estão proibidas, neste período, novas ligações ou religações de água e luz, além de construções, reformas e remoção de entulhos ou barreiras, exceto as executadas pela prefeitura. Obras de terraplanagem também estão suspensas em todo o município.
Como foi elaborado o estudo
Cerca de 15 especialistas do Centro de Apoio Científico em Desastres (Cenacid) da Universidade Federal do Paraná visitaram áreas onde houve deslizamentos de terra em Blumenau. Fizeram parte da equipe geólogos, físicos e biólogos entre outros.
Foram formadas cinco equipes. A elas se juntaram apoiadores da prefeitura. As áreas foram analisadas na primeira quinzena de dezembro. Foram escolhidas com base em três critérios: os bairros de onde vieram o maior número de pedidos de atendimento durante a catástrofe, registrados pela Secretaria Municipal de Planejamento Urbano, levantamento da Defesa Civil das áreas mais afetadas e estudos prévios do município.
O levantamento apontou mais de uma dezena de processos perigosos como deslizamentos e queda de rochas, que colocam em risco a segurança dos moradores. Definiu também as áreas que deveriam ficar evacuadas pelo menos por 90 dias, tendo em vista o risco de novos desmoronamentos, já que o verão é o período mais chuvoso do ano.
Com base nestes dados, a prefeitura, através de decreto, ordenou a desocupação de imóveis de 84 áreas de Blumenau. Nestas ruas também foram proibidas novas ligações e religações de água e luz, construção e reforma. O Cenacid recomendou, ainda, que a prefeitura execute estudos específicos nestas áreas para concluir quais não poderão mais ser habitadas.
(Por Daiane Costa, Jornal de Santa Catarina, 26/01/2009)