A "permanência sustentável" da comunidade quilombola no parque do Jaú é a saída para a disputa na área, na opinião do geógrafo Carlos Durigan. Coordenador-executivo da FVA (Fundação Vitória Amazônica), Durigan conhece há mais de dez anos a população que vive no parque nacional e sabe da complexidade da situação. "Muitas famílias nem sabiam que ali era um parque.
Ele foi criado em 1980 e, cinco anos depois, foi instalada uma base flutuante do extinto IBDF [Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal], que agia com truculência", diz.
Segundo ele, chegou-se a oferecer uma indenização para famílias deixarem o local, mas elas consideraram o valor baixo e não aceitaram - tinham como exemplo as famílias da Estação Ecológica Anavilhanas que haviam sido indenizadas e não conseguiam comprar um terreno com o dinheiro recebido.
Apesar de a legislação não permitir as atividades humanas de coleta e consumo nos parques, o geógrafo considera que é preciso ser mais "flexível" neste caso.
Porém, Durigan afirma que a área de 700 mil hectares solicitada para a comunidade do tambor precisa ser revista. "É hiperdimensionada. Eles não usam toda essa área. E, além disso, parte dela é utilizada por famílias que não são de afro-descendentes", diz.
Historicamente, a área do Tambor já foi um entreposto de borracha, afirma. De acordo com ele, as famílias isoladas se juntavam na região para formar comunidades com o objetivo de conseguir escolas.
Ele conta que será iniciado neste ano a tentativa de um termo de compromisso que permita a manutenção das pessoas dentro do Jaú, desde que elas vivam de forma sustentável.
"Não vejo como a permanência de forma integrada ao parque e ao ICMBio seja negativa", opina. Ele critica os ambientalistas que só pensam nas plantas e bichos, sem se importar com as pessoas; e também os que defendem as pessoas em detrimento da biodiversidade.
(Por Afra Balazina,
Folha de S. Paulo, 26/01/2009)