Adecisão mais importante tomada durante o encontro do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) em Sarandi não é pública. A organização continuará sendo dirigida pelos agricultores assentados em lotes dos programas de reforma agrária do governo.
O grupo dirigente é composto por sulistas aliados com paulistas que há 15 anos tomaram o poder e, desde então, manobram os acampados à beira das estradas para barganhar créditos altamente subsidiados do governo federal.
O MST nasceu como um grito dos oprimidos. Foi pensado e articulado por um punhado de necessitados acampados na beira da estrada que liga Passo Fundo a Ronda Alta, a Encruzilhada Natalino, nos anos 80. Ali, agricultores miseráveis, aliados com a ala de religiosos progressistas e meia dúzia de técnicos comprometidos com as lutas populares, forjaram a organização que se tornaria um sinônimo da luta pela reforma agrária da América do Sul.
Ao insistir em se perpetuar no poder, a direção transforma o MST em uma organização de sem-terra dirigida pelos com-terra. E ao anunciar que irá perfilar-se ao lado de petroleiros petroleiros e de outros movimentos sociais urbanos, eles apostam na falta de memória da sociedade.
Já nos anos 90, o sem-terra investia em causas urbanas. O sectarismo dos dirigentes fizeram fracassar as alianças. Os líderes continuam os mesmo.
A questão da associação do MST com as organizações paraguaias que lutam contra os brasiguaios, agricultores brasileiros que se mudaram para o Paraguai, já foi tentada várias vezes. E até agora tem sido um fracasso.
No país vizinho, há dezenas de movimentos de sem-terra e cada um deles com uma linha política. Mas há uma coisa comum a todos: não gostam de brasileiros. Seja ele rico, pobre ou miserável. Claro, há um fator novo. Agora existe ao redor do presidente paraguaio, o ex-bispo Fernando Lugo, pessoas que viveram no Brasil e que aqui perfilaram-se ao lado de organizações populares, incluindo o sem-terra.
Mas a questão agrária do Paraguai continua a mesma. Tem pouco a ver com carência de terra e muito com uma uma equação política bem complicada. Há uma mudança hoje nas organizações populares que não está sendo percebida pela direção do MST. O peso político delas está diretamente ligado a sua transparência.
(Por Carlos Wagner, ZH, 26/01/2009)