Poucos livros sobre meio ambiente tiveram tanto impacto na sociedade como Primavera silenciosa, de Rachel Carson. Em 1962, a bióloga norte-americana denunciou em seu livro o uso indiscriminado do inseticida sintético DDT (Dicloro-difenil-tricloroetano) sobre os campos de cultivo dos Estados Unidos. Segundo sua então revolucionária tese, esses compostos químicos se acumulavam progressivamente sobre os seres vivos, especialmente nas aves, e terminavam por causar-lhes a morte. Se se continuasse espalhando o DDT pelos campos norte-americanos, chegaría o día em que os pássaros deixariam de cantar. Chegaria a primavera silenciosa. Dez anos depois, o governo dos Estados Unidos proibiu o pesticida.
A regulação sobre inseticidas, herbicidas e fungicidas de uso agrícola mudou muito desde então de forma a reduzir o impacto sobre o meio ambiente e, sobretudo, sobre a saúde humana. No entanto, um novo estudo adverte que os controles atuais para avaliar o impacto dos pesticidas sobre as plantas não são suficientes, uma vez que deixam fora os possíveis danos no vegetal ao nível reprodutivo.
A investigação, levada a cabo por várias instituições norte-americanas e a Universidade de Oregón, e publicada no Journal of Environmental Quality, mostra como a reprodução da batata se vê afetada inclusive por doses muito baixas de herbicidas. Concretamente, quanto mais jovem é a planta, mais suscetível é aos pesticidas sintéticos. O momento em que se aplica o herbicida também pode ser crucial, pois o dano era maior quando a planta entrava em contato con os compostos químicos a duas semanas de brotar.
As alterações reprodutivas da batata podem ter consequências desastrosas para a economía, con uma baixa produtividade de tubérculos. Mas os efeitos são incontroláveis quando afetam aos ecossistemas inteiros através da cadeia alimentar. "Os rendimentos reprodutivos das plantas têm grandes efeitos sobre as cadeias alimentares. Os produtos reprodutivos das plantas dão suporte a populações de vertebrados e invertebrados e são um dos principais fatores reguladores do êxito das populações animais", escrevem Thomas Pfleeger, Milton Plocher e colegas.
(Por Tana Oshima, Reportero Ambiental, EcoAgência, 25/01/2009)