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amazônia consciência ambiental fórum social mundial
2009-01-26

No III Fórum Mundial de Teologia e Libertação (FMTL), várias vozes destacam a necessidade de uma teologia de sustentabilidade da vida no planeta. "A ecologia significa uma nova relação dos seres humanos com a Terra e a natureza, uma relação que não seja destrutiva, mas que se beneficie dos recursos e dos serviços que a natureza oferece. A ecologia é um paradigma novo e a mudança climática será a grande questão do século XXI", defendeu Leonardo Boff.

Quase quatro décadas depois de a Teologia da Libertação se espalhar de forma especial na América Latina, quando muitos teólogos foram acusados de fomentar a formação de células comunistas dentro da Igreja Católica através das comunidades ecelesiais de base, como deve ser o novo cristianismo militante? Primeira atividade a dar cores de Fórum Social Mundial de Belém, o III Fórum Mundial de Teologia e Libertação (FMTL) tenta responder esta pergunta. A base da resposta está em uma teologia de sustentabilidade da vida no planeta.

“A teologia da libertação nasceu escutando o grito do oprimido e de tal preocupação nasceu a Teologia da Libertação. Mas a teologia não tem a chave da libertação. Em uma época eram os teólogos que mais falavam da libertação, mas eram outros que libertavam. Gente que estava na luta sindical, na guerrilha, estava em frentes duras de enfrentamento. A perspectiva é de como fazer do cristão um militante, que ele se comprometa e vá até a trincheira. Seja na luta sindical, política, de gênero, Direitos Humanos ou nas questões da ecologia”, resumiu Leonardo Boff.

A água e a terra foram apresentadas como base da biodiversidade do planeta e a Amazônia como palco para se reconhecer fronteiras e alternativas da relação do ser humano com o seu ambiente imediato. “Minha preocupação inicial é que a Amazônia não se torne tão somente o local do fórum e sua escolha não tenha apenas um mero caráter inspirador. Explico: da perspectiva das populações amazônicas hoje, não é mais possível abordar a região como apenas uma espécie de sub-tema da questão ecológica. A relação Teologia Libertadora e Ecologia têm sido objeto de reflexões em vias de aprofundamento, mas considero fundamental que essas reflexões cheguem à Belém muito mais dispostas a ver e ouvir do que para estabelecer pistas e mostrar resultados”, disse o teólogo Antônio Carlos Telles.

Uma ecumênica platéia de quase mil pessoas esteve no auditório do Centur, em Belém do Pará, para acompanhar a abertura do III FMLT. A mística uniu vozes em torno da frase “a, vida, que é sagrada, seja o centro dos nossos corações”. Sob o tema “Água, terra e teologia para outro mundo possível”, as conferências e debates seguem até domingo (25).

Segundo o secretário executivo do encontro, Luiz Carlos Susin, o FMLT recebeu grande apoio do governo do Estado do Pára e do comitê do Fórum Social Mundial. Ele destacou o café teológico como ponto alto do encontro, espaço permanente de troca de experiências e convivência comunitária.

“A ecologia é vista aqui não como uma operação de gestão de recursos escassos, aqui ela é tomada como um termo mais amplo, em uma reflexão contemporânea. A ecologia significa uma nova relação dos seres humanos com a terra e a natureza, uma relação que não seja destrutiva, mas que se beneficie dos recursos e dos serviços que a natureza oferece. A ecologia é um paradigma novo e a mudança climática será a grande questão do século XXI”, disse Boff no encontro.

Eleição de Obama e a Teologia da Libertação Negra
Assunto recente, a eleição de Barack Obama como novo presidente estadunidense esteve presente em mesas, conferências e conversas de corredor no III FMLT. Obama, durante a campanha, grifou diversas vezes sua relação com a Teologia da Libertação Negra. O candidato democrata à presidência dos Estados Unidos foi formado pela Igreja Trinity United Church of Christ, conhecida por ser uma das mais liberais do país e inspirada na Teologia da Libertação Negra. Uma geração de líderes religiosos negros dos Estados Unidos, que eram jovens quando Martin Luther King morreu, viveu o suficiente para ajudar a eleger o primeiro presidente negro do país.

“Obama é completamente diferente de Bush. Ele já está, por exemplo, organizando o fechamento de Guantánamo e estruturando um governo independente daquilo que guiava o Governo Bush, que nos envergonhavam tanto. Ele também está bem consciente do papel que a força militar dos Estados Unidos tem no mundo e de que isso é um grande negócio. As pessoas em seu governo entendem o papel que os Estados Unidos tiveram no mundo até agora, Obama reconhece isso. Ele é uma pessoa capaz de engajar estas forças interessantes. Esse não é um governo fundamentado em mentiras”, avaliou Emilie Townes, professora da Yale Divinity School.

FMLT faz parte do processo de Porto Alegre à Belém
Em Janeiro de 2003, durante o III Fórum Social Mundial, em Porto Alegre, um encontro entre teólogos gerou a idéia de uma atividade sobre a Teologia da Libertação na programação oficial do encontro. Em julho do mesmo ano, durante a Conferência "Cristianismo e Sociedade na América Latina" realizada na PUC de São Paulo, uma reunião decidiu levar adiante a idéia. Assim, em Porto Alegre, nos dias 11 e 12 de dezembro de 2003, a partir de várias entidades representadas, foi constituído um Comitê Organizador para realizar o que ganhava a dimensão de um "Fórum Mundial de Teologia e Libertação" (FMTL), a ser realizado sempre nas vésperas do FSM.

(Por Clarissa Pont, Carta Maior, 25/01/2009)


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