Uma nova palavra está na moda no Rio de Janeiro: a "ecobarreira". Ela designa um muro de tijolos de um metro de altura, coberto por uma grade de aço de um metro e sessenta. Por enquanto, essa muralha só existe no papel. Mas ela se concretiza antes do fim do ano. Ela contornará, por uma extensão de 900 m, a favela Dona Marta. Encostada em um morro, ela paira sobre Botafogo, um bairro residencial do sul do Rio.
A futura "fronteira ecológica", como também é chamado, terá um objetivo duplo: conter a expansão irreprimível da favela, ao mesmo tempo em que protege a floresta primária vizinha contra o avanço do concreto. Esse muro deverá ser o primeiro de uma série de cercados em torno das favelas do Rio. Sua construção é uma das medidas anunciadas recentemente pela nova equipe municipal. Esta fixou como prioridade combater, com o apoio do Estado do Rio de Janeiro, a desordem urbana e o crescimento anárquico da megalópole.
Dona Marta não foi escolhida por acaso. Essa favela, há muito controlada por traficantes de drogas, como muitas outras, foi ocupada no dia 19 de novembro de 2008 por uma brigada de 125 policiais "comunitários"que a patrulham 24 horas por dia. Os 7.500 habitantes se livraram dos traficantes, que fugiram, sem dúvida, para outras favelas.
O projeto municipal não agrada a todos. Alguns responsáveis pela associação condenam uma vontade de instaurar uma "segregação social" e lamentam que a população não tenha sido consultada. Militantes denunciam como "hipócrita" o argumento ecológico apresentado pelas autoridades.
Perseguir os delinquentesUma coisa é certa: erguer esses muros não será o suficiente para frear o fenômeno da "favelização" que gangrena as principais cidades do Brasil. Segundo pesquisa recente, 218 novas favelas surgiram no Rio entre 1999 e 2008. Agora elas são em 968. Sua expansão é tanto horizontal quanto vertical: não é raro ver imóveis de cinco, seis ou até mais andares.
Esse imenso problema exige uma resposta multiforme: policial, urbana, econômica, social, cultural. O novo prefeito do Rio, Eduardo Paes, e o governador do Estado, Sérgio Cabral (ambos do PMDB) prometem melhorar a vida cotidiana dos habitantes construindo habitações, escolas e hospitais, ou efetuando obras de saneamento.
Mas antes é preciso que eles persigam os delinquentes que impõem suas leis a essa população pobre, e que controlem a evolução urbana recorrendo a toda tecnologia disponível. Exemplo: um sistema de vigilância por satélite permitirá revelar o começo de uma construção ilegal, podendo-se ordenar sua destruição. Trata-se de reconquistar o território há muito abandonado aos delinquentes, e de reafirmar a presença do poder público.
(Por Jean-Pierre Langellier, Le Monde,
UOL, 23/01/2009)