O quilo da sucata que valia R$ 0,27 há dois meses despencou para R$ 0,10. O da latinha que girava em R$ 2,50 parou em R$ 1. A comercialização de alumínio, metal e ferro que atingia 80 toneladas, agora não chega a 30. O empregado foi mandado embora.
Essa é a realidade do negócio de Roque Rodrigues Cassal (56) desde novembro do ano passado. “Resumindo, estou quebrando”, analisa o proprietário de ferro-velho. Ele afirma que nos 17 anos de atuação nunca enfrentou uma crise como a atual.
A realidade de Cassal é a mesma enfrentada pelo setor de reciclagem, que sofre com a queda na produção industrial. De centavos em centavos, o valor do material reaproveitado despencou.
“Em novembro, a siderúrgica simplesmente me comunicou que iria dar férias coletivas por 20 dias e que só pagaria R$ 0,15 pelo quilo da sucata que eu comprei por R$ 0,20. Agora caiu para R$ 0,10”, conta. “Eles dizem que não estão conseguindo exportar por causa da crise e daí compram e pagam pouco”, reclama Cassal.
Quem também não anda nada satisfeito é o catador Lindomar da Silva (37). “Antes fazia duas viagens, uma de manhã e outra de tarde, parar receber entre R$ 500 e R$ 600. Agora tenho que sair cinco vezes por dia, até de noite, para ganhar a mesma coisa”, observa.
“O quilo do papelão caiu de R$ 0,17 para R$ 0,10. O do plástico de R$ 0,45 para R$ 0,15”, enumera Silva. Diante da situação, ele já pensa em abandonar a atividade na qual atua há dez anos. “Vou tentar arrumar emprego em uma firma.”
EmpateCom muitos dos catadores desistindo da atividade, a Cooperativa dos Catadores do Vale do Taquari (Cocavat) não sofre tanto com a turbulência no setor. “O preço caiu para valer, mas com pouca concorrência o volume de material reciclável aqui no aterro sanitário aumentou”, explica o presidente da cooperativa, Diogo Couto.
Com o acréscimo de material reaproveitado, a cooperativa teve que contratar mais quatro trabalhadores. “O pessoal continua tirando em média um salário mínimo por mês”, calcula.
(Por Ermilo Drews,
O Informativo do Vale, 23/01/2009)