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política ambiental brasil amazônia política energética
2009-01-23

A Amazônia e Belém, como sede desta edição do FSM, são o espaço privilegiado para discutir o tema planetário da sobrevivência da vida humana: como criar um ciclo virtuoso entre preservação ambiental e desenvolvimento humano.

Como diretor de TV da Carta Maior, fico antecipando as imagens que mostraremos ao mundo pela internet. Ao mundo? Sim, ao mundo. Nos outros fóruns houve momentos em que tivemos 150 mil computadores conectados simultaneamente em nossa transmissão. Recebíamos mensagens de nossos leitores dos quatro pontos cardeais do planeta: Austin, Texas, Tóquio, Japão, Berlim, Alemanha, Joanesburgo, África do Sul, Sidney, Austrália...Naturalmente, a maioria vinha do Brasil e de outros países da América Latina.

Imagino que poderemos mostrar imagens do rio Guamá, da Baía do Guajará, da cidade e de sua história, onde diversas culturas se cruzaram em confrontos nem sempre pacíficos.

Belém é o portal da Amazônia, para quem vem do leste; ou seu epílogo grandioso, para quem venha do interior. E a Amazônia é um tema mundial. Na Europa, onde hoje moro, é um tema privilegiado. Se tomarmos o rio Amazonas, o mais longo e caudaloso do mundo, como eixo desse espaço, ele abrange nove países, desde as enormes altitudes dos Andes, onde ele nasce, até a foz entre a ilha de Marajó e o estado do Amapá, onde ele deságua no Atlântico. Belém fica diante do outro lado da ilha de Marajó, ao sul, onde depois do rio Guamá corre o rio Pará. Assim como o Guaíba, que banha Porto Alegre, o berço do Fórum Social Mundial, o rio Pará também é motivo de controvérsia. Há quem não o considere rio, mas um estuário; ou quem o considere na verdade um braço ou canal do próprio rio Amazonas, avolumado pelo Tocantins e pelo Araguaia.

Mas ainda predomina, em muitos espaços, uma visão algo folclórica desse gigantesco território amazônico, baseada no exotismo. Por isso espero que, além de mostrar e debater o Fórum Social Mundial, seus temas, realizações e impasses, a nossa cobertura consiga expor mais sobre os embates que se dão nesse mundo extraordinário e atravessado por todas as tensões, contradições e reivindicações que perpassam toda a vida do planeta hoje.

É claro que a Amazônia e Belém, como seu portal e locus desta edição do Fórum Social Mundial, são o espaço privilegiado para discutir o tema hoje planetário da sobrevivência da vida humana, e do jogo a um tempo equilibrado e ousado entre a sustentabilidade do meio-ambiente e a sustentabilidade do desenvolvimento humano.

Várias vezes na Europa deparei-me com a sutileza de um tema que pode assim ser descrito: “ah, se os povos do terceiro mundo tiverem o nosso padrão de consumo [da Europa ocidental e dos Estados Unidos] o planeta não vai agüentar”. Ou mais prosaicamente: “se todos os chineses e os indianos quiserem ter um automóvel, o mundo explode”.

Junto com esses temas, aparece um outro, que sutil ou desabridamente coloca em dúvida a capacidade do Brasil e dos brasileiros (para não falar dos outros povos...) administrarem essa preciosidade planetária que é a Amazônia. Não se trata necessariamente da velha tese de que é preciso internacionalizar a administração da Amazônia; essa discussão pode aparecer sob a égide de que somos “nós” [os europeus, ou norte-americanos, através de seus governos ou de suas ONGs) que podemos dizer a “vocês”, os latino-americanos, o que fazer com essas preciosidades que, por azares dos destinos e dos movimentos de independência do século XIX, ficaram em suas mãos e em seus territórios.

Esse é um sentimento que pode também, por outras vias, continuar justificando que os tesouros arqueológicos saqueados pelas potências do Norte em diferentes momentos do colonialismo/imperialismo ao Sul do planeta continuem em suas mãos, pois os povos dessas regiões “atrasadas” não teriam condições econômicas, físicas ou espirituais para preserva-los. É claro que esses sentimentos não são os únicos a prevalecer ao Norte do planeta, onde existe muita gente muito esclarecida e de espírito aberto ao diálogo entre culturas. Mas são fortes, e encontram eco entre nós, os do Sul, onde muita gente pensa mesmo que não temos condição de fazer nada, e que seria melhor se alguns bolsões de nossa vida (por exemplo, os bairros ricos de muitas cidades brasileiras) fossem anexados, por assim dizer, por algum país do “Norte desenvolvido”...

Parece-me, portanto, vital que nossa cobertura, da Carta Maior, ajude a situar melhor essa problemática em relação à Amazônia: como criar um ciclo virtuoso entre preservação planetária e desenvolvimento humano, o que supõe desenvolvimento energético também.

Uma coisa é certa: somente a presença humana administrada segundo valores que hoje não pertencem ao capitalismo que venceu a Guerra Fria pode ajudar a criar, na Amazônia e em outros lugares, condições de sustentabilidade. Caso contrário esse espaço poderá se tornar simplesmente uma reserva... para o narcotráfico, o banditismo organizado, ou as madeireiras clandestinas. E cabe às presenças soberanas dos países que detém os poderes de estado sobre esse espaço cuidar para que ele também não se torne pasto de multinacionais e laboratórios em busca de biodiversidade para implementar seus copyrights sobre tudo, como naquele caso em que uma multinacional sediada no Japão queria patentear o nome “cupuaçu”...

Mas é evidente que nada disso deve promover xenofobia ou cerceamento do diálogo em escala mundial sobre os destinos do planeta, e dentro dessa moldura, da Amazônia. Espero que nossa cobertura ajude a promover e a consolidar esse diálogo entre partes soberanas em seus direitos, inclusive à palavra sobre os destinos da humanidade. É com isso que lidamos, na Carta Maior: palavras e imagens. E esperamos continuar, com nosso lema “se hace camino al andar”, do poeta Antonio Machado, a promover a solidariedade internacional.

(Flávio Aguiar, Carta Maior, 22/01/2009)


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