Parques de São Paulo são insuficientes para garantir boa qualidade de vida da população e maioria está em mau estado de conservação, afirma estudo.
São Paulo pode ser considerada uma metrópole inóspita se forem observados somente critérios ambientais. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que todo município ofereça um mínimo de 12 metros quadrados (m²) de área verde por cada habitante, para se manter uma boa qualidade de vida. Na capital paulista, esse índice mal à metade, ficando entre cinco e 6 m².
Parques urbanos ou florestais, muitas vezes, suprem a carência de verde da população. Mas na cidade, nem isso eles conseguem. São insuficientes para atender às necessidades dos 11 milhões de habitantes e estão em más condições de conservação. Isso é o que mostra estudo do Sindicato Nacional das Empresas de Arquitetura e Engenharia Consultiva (Sinaenco), divulgado nesta quinta (22).
A avaliação aconteceu entre outubro de dezembro de 2008 e teve como foco a manutenção e a conservação dos equipamentos oferecidos em 41 parques da capital (33 municipais e 8 estaduais), como brinquedos, quadras e pistas esportivas, aparelhos de ginástica, banheiros e bebedouros. A qualidade da vegetação também foi avaliada. Isso fez com que, juntos, todos os itens analisados dessem uma boa dimensão do descaso do poder público com áreas que, muitas vezes, são o único local de contato dos paulistanos com o meio ambiente.
Segundo o estudo, 30% dos parques foram classificados como bons e ótimos, 20% como ruins ou muito ruins e a metade restante como regulares. Muitos apresentaram problemas não só de conservação, mas também estruturais. O vencedor do ranking foi o Parque Burle Marx, na zona sul da cidade, com nota 9,5. Na lanterninha, ficaram os parques Raposo Tavares (Zona Oeste) e Chico Mendes (Zona Leste). Esses receberam nota cinco. A média geral foi 7,5.
Não só criar, preservar
Segundo Pedro Taddei, arquiteto e coordenador do estudo junto ao Sinaenco, a análise dos parques teve como objetivo chamar a atenção do público e das autoridades sobre a necessidade de se investir na manutenção e não apenas na criação de novos parques. “Em São Paulo, os deslocamentos são penosos, o uso do espaço público é penoso, poluído e de clima desfavorável, quente e úmido, isto é, a vivência diária é inóspita. Então, os parques são muito demandados”, disse.
Apesar de não fazer referência à condição social da comunidade no entorno de cada parque, o estudo privado mostra que, entre as seis piores áreas, quatro estão na zona leste, onde vivem cerca de três milhões pessoas, muitos em condições de suscetibilidade social. E olha que lá há apenas seis parques. “A prefeitura deveria oferecer mais e melhores opções de laser para os habitantes desta área”, diz o pesquisador.
Conforme Taddei, o que se verificou foi uma enorme disparidade entre oferta e demanda, isto é, poucos parques para muita gente. Na média, cerca de dois milhões de paulistanos frequentam os parques da cidade, o que representa menos de 10% da população. A média de visitas é de apenas uma por mês. E isso não significa que o acesso a eles seja complicado. A maioria pode ser alcançada de ônibus, metrô ou trem. A redução dos estacionamentos em áreas públicas, inclusive, já é uma tendência em países desenvolvidos, para estimular o uso de outros meios de transporte, menos poluentes. O que os pesquisadores esperam é que essa tendência seja adotada pelo Brasil.
Governo relativiza problemas
Apesar dos dados não terem sido positivos, o Secretário Municipal do Meio Ambiente, Eduardo Jorge, gostou do relatório. “Todos os parques passaram de ano, alguns em cima da média de corte, mas passaram”, disse. Segundo ele, essas áreas passam por inspeções anuais. “O estudo é uma fotografia de um determinado período e que não levou em conta reformas que foram feitas. Várias das deficiências já foram corrigidas”, defende. Dos 41 parques analisados, 33 eram municipais.
Atualmente, São Paulo conta com 50 parques municipais que somam 2.300 hectares (menos de 1,5% da área da cidade) de áreas nem sempre verdes. Até 2012, a prefeitura espera construir outros 50, que somarão 5.000 hectares. Para a manutenção dos já existentes, a prefeitura tem disponíveis 38 milhões de reais.
(Por Cristiane Prizibisczki, OEco, 22/01/2009)