Encontros sobre energias limpas normalmente são o território de pesquisadores e simpatizantes da causa ambiental, porém o que se viu no Fórum Mundial de Energias do Futuro, em Abu Dhabi, foi uma platéia repleta de executivos do mercado financeiro e empresários do setor energético atrás de grandes oportunidades de negócios.
A posse de Obama em Washington foi citada por praticamente todos os palestrantes do Fórum de Abu Dhabi para dizer que o futuro será das energias limpas e que o novo presidente dos EUA é exatamente o que o mundo precisa para ser mais sustentável.
Mesmo com o cenário de volatilidade no mercado financeiro global, o apoio de governos às renováveis se mantém como uma opção atrativa para os investidores, disse o diretor de investimentos do banco Arcapita, Jacob Kalkman. O total investido no setor em 2008 foi US$ 155 bilhões, cinco vezes o volume de 2004, segundo o Banco Standard Chartered.
Tanto Kalkman quando o diretor de energias renováveis do Standard Chartered, Brad Sterley, vêem os fundos soberanos de riquezas do golfo como investidores muito interessantes, pois há uma forte demanda por capital inicial neste setor.
Os Emirados Árabes, com a quinta maior reserva de petróleo do mundo, se comprometeram durante o evento a ter 7% da sua energia vinda de fontes renováveis até 2020. Para isso, irão investir nas fontes solar, eólica e geotérmica.
A Credit Suisse prevê que a participação das alternativas no suprimento de energia mundial crescerá significativamente nas próximas décadas. Os temores políticos com relação à diminuição das reservas de petróleo e as preocupações com o aquecimento global são os principais motivos para este cenário.
“As renováveis são um tema de longo prazo. Por causa do aumento nos custos energéticos e regulamentações obrigatórias em muitos países, elas estão rapidamente aumentando a participação no mercado global de suprimento de energia”, afirmou o chefe de Pesquisas em Energias Alternativas da Credit Suisse, Miroslav Durana.
O ex-primeiro-ministro britânico, Tony Blair, encerrou o Fórum, insistindo que mesmo com os desafios em torno da crise econômica, o mundo não pode tirar os olhos do problema das mudanças climáticas. O que for feito em 2009 irá determinar os eventos de 2020 ou 2029, afirmou.
Diferentemente do que disse a governadora geral da Austrália, Quentin Bryce, alguns minutos antes, Blair deixou claro que seria preciso eliminar a dependência do carbono, não apenas reduzi-la. Quentin havia enfatizado a expansão do uso da tecnologia de captura e armazenamento de carbono (CCS) junto às termoelétricas de carvão.
Brasil
Enquanto empresas da Europa e dos Estados Unidos apresentaram novidades tecnológicas nas áreas solar, eólica e veículos híbridos, o Brasil foi praticamente o único país a defender os biocombustíveis.
O estande da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP) e da União Brasileira dos Produtores de Cana-de-Açúcar (ÚNICA) não conseguiu chamar tanto a atenção quanto as grandes turbinas e os painéis solares. Para o diretor da Interaction Times, Marcus Peçanha, a principal explicação pela falta de interesse do evento nos biocombustíveis é a pouca relação geopolítica do Brasil com a região do Golfo Pérsico.
Apesar disso, Peçanha acredita que no próximo ano, a participação brasileira e dos biocombustíveis irá aumentar. “O evento é um mar de oportunidades e acredito que esta pequena delegação irá se multiplicar no próximo ano”, comentou o diretor em entrevista por telefone direto de Abu Dhabi.
(Por Paula Scheidt,
Carbono Brasil, 21/01/2009)