Pode estar nas matas densas da região de Costa do Rio, no interior de Candelária, a explicação para a morte da adolescente Ana Paula Vargas, de 14 anos. Ela faleceu na última sexta-feira com sintomas semelhantes ao da febre amarela e desde então a Secretaria Estadual de Saúde mantém atenção especial com o município.
Embora o resultado dos exames feitos para identificar a real causa do óbito ainda não tenha sido divulgado, técnicos da 13ª Coordenadoria Regional de Saúde (CRS) iniciaram uma varredura na localidade. Munidos de equipamentos de captura eles ingressaram nas florestas ontem pela manhã à procura de mosquitos, bugios ou outros macacos.
Os insetos do gênero Haemagogus, ao picar primatas contaminados, podem transmitir a doença aos homens. Entretanto, após duas horas de buscas não foram encontrados sinais que possam indicar a presença desses agentes. O trabalho deverá ser retomado dentro dos próximos dias.
Essa nova operação, segundo o técnico da CRS, Eugênio Luz, será feita porque já começaram a ser verificadas mortes de bugios na região de Soledade e também em Salto do Jacuí. Embora essas cidades fiquem a mais de 100 quilômetros do local onde mora a família da vítima, ele aponta que as matas têm ligação e possibilitariam o trânsito tanto de macacos quanto de mosquitos.
Nas investigações realizadas ontem os moradores também foram ouvidos. Segundo o agente de saúde Altair Ritter, as famílias relataram que há alguns anos não é identificada a presença de bugios naquela área. Os animais são percebidos a partir de seus uivos, que ecoam nas matas. “Mesmo sem termos confirmação vamos continuar atentos”, frisou.
Em outras regiões do Estado, onde foram confirmadas mortes de animais, o clima também é de apreensão. Representantes dos 111 municípios da área de risco se reuniram em Santa Maria para discutir estratégias de ação.
Conforme o Centro Estadual de Vigilância Sanitária (Cevs), mais de um quarto do Rio Grande do Sul já é alvo do surto de febre amarela, que já teria matado duas pessoas. A suspeita é que contraíram a doença em Santo Ângelo e Pirapó.
RiscoO Cevs informou que ainda não encontrou evidências epidemiológicas e laboratoriais da presença da febre amarela em Candelária. Caso seja confirmada a existência da doença, a Secretaria Estadual da Saúde vai colocar vacinas à disposição da população.
Entretanto, os moradores da região de Costa do Rio, em Candelária, seguem preocupados e esperam o resultado dos exames feitos em amostras de sangue da vítima que foram enviadas aos institutos Adolfo Lutz, de São Paulo, e Evandro Chagas, de Belém do Pará. O laudo deve chegar até o fim da semana que vem.
Moradora da localidade há 30 anos, a comerciante Celina Moura está preocupada. Em seu armazém todos os dias chegam pessoas pedindo informações a respeito. “Neste ano apareceram mais mosquitos do que o normal, mas acredito que não sejam os que transmitem a doença”, conta.
Dentre as histórias que circulam na comunidade estão as ameaças de extermínio de bugios e outros macacos para evitar a contaminação. O fiscal Eugênio Luz explica que esse tipo de medida coloca em risco a espécie e ainda pode representar crime ambiental.
(
Gazeta do Sul, 22/01/2009)