As emissões de dióxido de carbono precisam atingir um teto em menos de 10 anos e então iniciar um rápido declínio para quase zero até 2050, para impedir uma catastrófica transformação do clima, alerta um estudo divulgado este mês pelo Worldwatch Institute (WI), com sede nos Estados Unidos. As emissões de dióxido de carbono de fato necessitam “passar a serem negativas”, isto é, mais absorvidas do que emitidas, durante a segunda metade deste século, diz o informe do WI “State of the world 2009: Into a warming world” (Estado do mundo 2009: Para um mundo aquecido). Este “será um ano crucial para tratar da mudança climática”, disse à IPS o presidente do instituto, Christopher Flavin. “A humanidade sofrerá um grave perigo se não agirmos a partir de agora”, acrescentou.
A mudança climática está ocorrendo mais rápido e com mais impacto do que o previsto, conclui o trabalho, que é feito todos os anos pelo WI. Inclusive, um aquecimento adicional de dois graus centígrados suporia riscos inaceitáveis para sistemas naturais e humanos chaves, alertou o cientista W. L. Hare, um dos 47 que contribuíram nesse estudo. Embora pareça pouco, um aumento desses causaria uma significativa perda de espécies, grandes reduções na capacidade de produção de alimentos dos países em desenvolvimento, severos problemas de água para centenas de milhões de pessoas e uma significativa elevação do nível do mar, além de inundações costeiras.
“Precisamos dar um passo adiante para um novo acordo internacional sobre mudança climática este ano”, disse Flavin. A comunidade internacional vai se reunir em dezembro deste ano em Copenhague para criar um tratado mais enfático sobre mudança climática. Mas, os governos carecem de coragem sobre o assunto, e há “poderosos interesses criados que temem a mudança”, acrescentou. Organizações não-governamentais terão de desempenhar um “importante papel” em assegurar que se concretize um significativo acordo internacional. “As ONGs têm um papel extremamente importante em pressionar os governos para que ajam”, afirmou Flavin.
A sociedade civil mundial, desde as organizadas até as causas de pessoas individualmente, estão provendo a tão necessitada liderança sobre temas importantes, disse Paul Hawken, ambientalista e autor do livro “Blessed Unrest” (bendito desconhecido), sobre a sociedade civil como o maior movimento da historia. “As ONGs são o oxigênio que a sociedade civil necessita para crescer e adaptar-se à mudança”, afirmou Hawken à IPS. Esta liderança se baseia no poder de idéias que possuem valores consistentes e éticos sobre a restauração do meio ambiente e a promoção da justiça social, acrescentou.
No final deste mês, o Fórum Social Mundial realizará sua nona reunião anual, desta vez em Belém no Pará, atraindo ativistas de mais de mil organizações de 130 países. Espera-se que a biodiversidade e a mudança climática tenham um lugar de destaque na agenda. Por muitos anos, as ONGs eram a única fonte de informação sobre como criar uma sociedade sustentável, disse Hawken. As instituições formais como os governos, que propiciam estabilidade social, mudam de forma muito lenta. As ONGs são ágeis, abertas à mudança e a novas idéias. “Porém, somente são efetivas quando suas idéias são assumidas por uma parte maior da sociedade”, ressaltou.
O WI, junto com muitas outras ONGs, exorta os países ricos, como os Estados Unidos, principais responsáveis pela emissão de carbono, a não só aceitarem grandes reduções nas emissões, mas, também fornecer tecnologia e financiamento às nações mais pobres. Espera-se que o novo governo dos Estados Unidos, presidido por Barack Obama, apóie importantes reduções das emissões, mas, isso não será suficiente, disse Flavin. “Os Estados Unidos não entenderam ainda que terá de fornecer milhares de milhões de dólares para ajudar os países pobres a protegerem suas florestas tropicais”, afirmou. (IPS/Envolverde)
(Por Stephen Leahy, Envolverde, IPS, 20/01/2009)