Operação coloca em dúvida um dos investimentos florestais no RS
Desatado o nó da dívida da Aracruz com bancos credores, o processo de fusão da maior produtora de celulose de fibra curta de eucalipto no mundo com a Votorantim Celulose e Papel (VCP) foi retomado ontem. Por R$ 2,71 bilhões, a VCP, que já faz parte do grupo de controle, adquiriu mais 28,03% do capital votante da Aracruz, detidos pela Arapar (holding das famílias Loretzen, Almeida Braga e Moreira Salles.
Com isso, o grupo se torna o maior produtor de celulose do planeta, com receita líquida de R$ 7 bilhões, capacidade produtiva de 5,8 milhões de toneladas por ano e cerca de 15 mil funcionários diretos e terceirizados. A sinergia entre as empresas é estimada em R$ 4,5 bilhões. Nos próximos dias, a VCP poderá desembolsar igual valor e participação para comprar a parte da Aracruz em poder do Grupo Safra (confira quadro), ampliando sua fatia no controle.
A operação de ontem, no entanto, pode colocar em risco investimentos previstos para o Rio Grande do Sul de até R$ 8,9 bilhões. Inicialmente, Aracruz e VCP planejavam fazer expandir suas operações – em Guaíba (R$ 4,9 bilhões) e na Zona Sul (R$ 4 bilhões), respectivamente. Com a crise, os planos foram suspensos.
Ontem, o diretor-geral da Votorantim Industrial (controladora da VCP), Raul Calfat, informou que a companhia resultante da fusão deverá construir três fábricas até 2020, além da unidade em Três Lagoas (MS), que entrará em operação ainda no primeiro semestre deste ano.
– Uma unidade que deve sair, com bastante certeza, é no Rio Grande do Sul. A outra seria na Bahia. E temos opção para a terceira, que pode ser em Mato Grosso do Sul, em Minas Gerais ou no Rio Grande do Sul – disse Calfat, sem dar detalhes dos projetos.
Mais tarde, o diretor da VCP, José Luciano Penido, afirmou que Três Lagoas será, provavelmente, o local do terceiro investimento. Caso isso se confirme, apenas um dos projetos – expansão em Guaíba ou nova fábrica na Zona Sul – seria levado adiante no Rio Grande do Sul.
Reações ao acerto com bancos e à compra foram distintas
A fusão da VCP com a Aracruz chegou a ser anunciada em setembro. Mas foi suspensa em outubro por causa das perdas da Aracruz em derivativos cambiais. Antes da crise, a empresa apostava em um real forte em relação ao dólar e fez uma série de contratos da moeda norte-americana no mercado de futuros. Com isso, teve prejuízo de US$ 2,13 bilhões, que – após o acordo selado com os bancos na noite de terça-feira – será pago em até nove anos.
No mercado, as reações foram distintas. Segundo Leonardo Alves, analista da Link Investimentos, as condições do acordo com os bancos foram consideradas positivas para a Aracruz. Em relação à fusão, disse Alves, avaliou-se que a VCP pagou caro pelas ações ordinárias. E observou que os acionistas preferenciais não terão direito ao tag along (prevê pelo menos 80% do valor pago aos controladores). No fechamento da Bolsa de São Paulo ontem, os papéis preferenciais da empresa caíram 11,32%, enquanto os com direito a voto subiram 108,03%.
(ZH, 21/01/2009)