Primeiro foram os terremotos. Depois, as chuvas torrenciais promovidas pelo El Niño. O resultado foi o desaparecimento de uma antiga civilização americana no espaço de apenas algumas gerações, há mais de 3,6 mil anos.
Segundo um estudo que será publicado na próxima semana no site da revista Proceedings of the National Academy of Sciences, os tremores de terra e os alagamentos promoveram uma constante marcha de areia por sobre terras férteis, acabando com a permanência de um povo que habitava a costa do Peru e construiu as maiores estruturas das Américas até então.
“Era uma comunidade marítima e agrária que foi bem sucedida por mais de 2 mil anos e que, de repente, enfrentou uma grande mudança que fez com que perdessem tudo”, disse Mike Moseley, professor de antropologia na Universidade da Flórida e um dos autores do estudo.
Os habitantes do vale Supe, na costa central peruana, floresceram ao lado de uma planície desértica de modo notável. Eles pescaram com redes, irrigaram plantações de frutas e cultivaram algodão e uma grande variedade de vegetais, de acordo com evidências encontradas por Rudy Shadi Solís, diretor do Projeto Arqueológico Especial Caral-Supe e outro autor do artigo.
Segundo os pesquisadores, o povo Supe construiu templos piramidais de pedra extremamente grandes e elaborados, muito antes do surgimento das mais conhecidas pirâmides maias. “São monumentos enormes e impressionantes”, disse Moseley.
A maior pirâmide cujos vestígios foram encontrados pelo arqueólogos media 167 metros de lado e se elevava em uma série de degraus por quase 30 metros de altura. De acordo com o estudo, o fim da civilização foi motivado por um terremoto que atingiu 8 pontos na escala Richter, provavelmente seguido por outros menores – a região apresenta uma das maiores atividades sísmicas do mundo.
Os terremotos puseram abaixo as pirâmides e templos menores e foram seguidos por uma grande inundação. Mas os eventos foram apenas o início de uma série devastadora. Os terremotos desestabilizaram a formação de montanhas em torno do vale onde os Supe estavam, resultando em uma grande quantidade de terra e pedra que se espalhou pelo local.
Em seguida, as chuvas torrenciais promovidas pelo El Niño levaram os detritos para o oceano. Mas fortes correntes trouxeram de volta parte do material, dessa vez adicionado por areia, por todo o vale, acabando com as terras férteis que ali existiam.
Ventos fortes deslocaram grandes quantidades de areia em direção ao continente, que dificultaram ainda mais a vida dos habitantes, que por fim deixaram o local. Foi o fim da civilização Supe.
O artigo Environmental change and economic development in coastal Peru between 5,500 and 3,600 years ago, de Daniel Sandweiss e outros, poderá ser lido em breve por assinantes da Pnas.
(Agência Fapesp, 21/01/2009)