No caso de ser mantido o atual ritmo de desmatamento, em 20 anos praticamente não restarão florestas tropicais. Delas, 60% viveram durante 50 milhões de anos e já desapareceram. Entretanto, especialistas indicam que replantar em áreas onde florestas foram cortadas dá esperanças quanto a preservar parte da rica biodiversidade do lugar. Os últimos dados obtidos via satélite mostram que cerca de 350 mil quilômetros quadrados de áreas florestais originais estão voltando a crescer, disse Greg Asner, da Instituição Carnegie, com sede em Washington, no simpósio realizado no dia 12 de janeiro no Museu Nacional de História Natural do Instituto Smithsonian, em Washington.
Essa extensão representa apenas 1,7% do imenso cinturão planetário de florestas originais que chegaram a cobrir 20 milhões de quilômetros quadrados, 12 milhões dos quais já foram derrubados e outros cinco milhões cortados de maneira seletiva, disse Asner. “No futuro restarão muitas florestas tropicais, mas serão diferentes”, destacou Joseph Wright, do Instituto Smithsonian de Pesquisas Tropicais (STRI), no Panamá. No trópico são inúmeras as terras de cultivo marginais e também há uma emigração em grande escala de camponeses para as cidades. “A pergunta primordial é qual é o valor da conservação desta terra”, disse Wright ao Terramérica de Washington. “Penso que haverá um alto grau de biodiversidade”, respondeu.
Calcula-se que as florestas tropicais contenham 80% da biodiversidade terrestre. Também produzem entre 20% e 30% do oxigênio do planeta e são parte de um sistema de regulação do clima. Ira Rubinoff, diretor emérito do STRI perguntou se as florestas secundárias (de segundo crescimento) pode abrigar milhões de espécies tropicais únicas e fornecer os mesmos serviços ao ecossistema. “Estas perguntas não são triviais. Os serviços proporcionados pelas florestas tropicais são extremamente importantes para todo o planeta”, disse Rubinoff ao Terramérica. “Não sabemos as respostas. Sabemos mais sobre a lua do que sobre a floresta amazônica”, acrescentou.
Se as florestas de segundo crescimento estão conectadas com as originárias, então as espécies podem se trasladar. E as áreas reflorestadas também têm de ser suficientemente grandes e permanecer inalteradas por muitas décadas para dar um hábitat de boa qualidade, disse ao Terramérica Eldredge Bermingham, diretor do STRI. Há muitos outros fatores em jogo, entre eles a qualidade do solo, as mudanças nos padrões de chuvas e ventos, e a pressão exercida pela caça. “O STRI está envolvido em um novo estudo, que aborda o reflorestamento de 650 hectares de pastagens ao longo do canal do Panamá, com a esperança de responder algumas destas perguntas”, acrescentou. Mas o estudo vai demorar 25 anos.
Para os parâmetros temporais humanos, as florestas tropicais são antigas. “Nas florestas primárias há muitas árvores de 500 a 1500 anos”, disse William Laurance, pesquisador do STRI e presidente do Simpósio do dia 12. Embora sejam melhores do que as terras de pastoreio, as florestas secundárias e degradadas manterão apenas uma fração das espécies animais existentes, alertou Laurance em entrevista ao Terramérica, da cidade do Panamá. “Em termos de biodiversidade, isto se assemelha à porta de um estábulo sendo fechada depois que os cavalos escaparam”, afirmou.
As florestas secundárias também são mais propensas a incêndios do que as primárias, que são mais úmidas, explicou Laurance. Além disso, é improvável que os motivos atuais do desmatamento, como corte, mineração, agricultura indústria, incluídos os biocombustíveis, deixem intactas as florestas de segundo crescimento. Por outro lado, o desmatamento de insubstituíveis florestas primárias ocorre mais rapidamente do que em qualquer outro momento da história A Indonésia está perdendo mais de dois milhões de hectares de florestas por ano e a ilha de Bornéu está sendo devastada, acrescentou o pesquisador.
Do outro lado do planeta, a segunda maior floresta tropical do mundo, na República Democrática do Congo, é alvo de divisão. “A China está muito ocupada comprando cada pedaço de madeira” desse lugar, disse Laurance. E acrescentou que “a cada minuto o mundo perde o equivalente a 50 campos de futebol de florestas primárias”. Porém, o que realmente preocupa é a mudança climática. As plantas e os animais tropicais não podem tolerar amplas variações de temperaturas, explicou. “Um aumento de dois graus é suficiente para aniquilar algumas espécies”, disse. “Acredita-se que uma onda de calor na floresta tropical da Austrália causou, há três anos, a extinção da doninha lemuróide branca (Hemibelideus lemuroides). Mais recentemente, milhares de morcegos-raposa voadores (Pteropus rufus) morreram quando as temperaturas chegaram a 40 graus na mesma região”, acrescentou.
Wright concorda que a mudança climática é um “grande problema” para a biodiversidade tropical. A vasta maioria dessas florestas está onde a temperatura anual média é de 25 ou 26 graus. Segundo as previsões, antes do final deste século, as temperaturas das regiões tropicais serão três graus maiores. Atualmente, não há florestas onde a temperatura anual média seja de 28 graus, disse Wright. “Isso não significa que algo mais não possa substituir as florestas tropicais, mas não sabemos o que será”, acrescentou.
Proteger as florestas da mudança climática significa preservar as florestas primárias existentes, disse Laurance. “Esperamos que este simpósio chame a atenção de Barack Obama (presidente eleito dos Estados Unidos) para a importância de proteger as florestas tropicais”, afirmou. É necessário que os Estados Unidos tenham um papel significativo no mercado de créditos de carbono e que ajude países como Brasil e Indonésia a compreenderem que podem receber muito dinheiro com esse mecanismo, enfatizou Laurance.
(Por Stephen Leahy*, Terramérica, Envolverde, 19/01/2009)
* O autor é correspondente da IPS.
Artigo produzido para o Terramérica, projeto de comunicação dos Programas das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) e para o Desenvolvimento (Pnud), realizado pela Inter Press Service (IPS) e distribuído pela Agência Envolverde.