As estações quentes mais prolongadas que se têm vivido são para todos: pessoas, animais, plantas e vírus. Um estudo publicado no “International Journal of Health Geographics” conseguiu ligar estes quatro grupos e explicar porque é que o aquecimento global está relacionado com o aumento preocupante de uma doença que tem afectado a Bélgica.
Desde 2005 que já se vive uma pandemia na Bélgica causada pelo vírus puumala. O vírus, cujo hospedeiro é o rato-toupeiro, está referenciado nas listas do país desde 1985. Dos 2200 casos identificados, 828 (que representa 37,6 por cento dos casos) ocorreram entre 2005 e 2007.
“Esta doença transmitida por animais era pouco conhecida antes de 1990. A sua incidência tem aumentado na Bélgica com um padrão cíclico, alcançando proporções epidémicas desde 2005. O facto de nos últimos anos haver um efeito combinado de Verões e Outonos mais quentes que estão ligados com o aumento da doença sugere que este fenómeno seja uma consequência do aquecimento global”, explica em comunicado Jan Clement da Universidade belga de Leuven, autor do estudo.
Os autores acreditam que o clima mais quente faz com que haja mais bolotas, o prato principal da dieta do rato-toupeiro ou Myodes glareolus. Ao haver mais alimento, a população do roedor também aumenta, o que torna o vírus mais frequente. Por outro lado, um tempo mais ameno faz com que as pessoas visitem mais vezes os espaços verdes e estejam mais em contacto com o mamífero.
“Desde 1993 que o pico de casos da doença foi precedido pelo aumento de produção outonal de bolotas no ano anterior”, explicou o investigador. A doença já se espalhou para outros países como a Alemanha, França, Holanda e Luxemburgo.
O vírus pummula faz parte da família dos vírus que causam febre hemorrágica – o sangramento dos tecidos e dos órgãos. Apesar de ser relativamente fraco, causa sintomas parecidos com os da gripe e complicações a nível renal que necessitam de diálise intensa. Alguns doentes podem ter problemas a nível pulmonar e em casos raros o vírus mata a pessoa.
(Por Nicolau Ferreira, Ecosfera, 16/01/2009)