O acidente ocorrido na quinta-feira passada com o Airbus 320 da empresa aérea US Airways, com 155 pessoas a bordo, que fez com que o piloto tivesse de realizar um pouso de emergência nas águas geladas do rio Hudson, em Nova Iorque, trouxe à tona novamente um problema que ocorre com boa parte dos aeroportos do Brasil: a presença constante de aves ao redor das pistas de decolagem.
Informações preliminares dão conta de que urubus teriam se chocado com as turbinas do avião provocando as panes. No Aeroporto Internacional Salgado Filho, em Porto Alegre, os incidentes envolvendo choques entre aves e aviões caíram um terço de 2007 para 2008. Em 2007, ocorreram 18 casos e no ano passado, os incidentes foram registrados em seis ocasiões.
"Nós acompanhamos o perigo aviário há muito tempo. Como vimos agora, esse não é um problema só do Salgado Filho ou do Brasil, em todo o mundo existe essa preocupação constante. Para evitar incidentes trabalhamos com um corte de grama adequado, eliminamos a presença de água próxima da pista, que os pássaros usam para beber, e estamos, aos poucos, acabando com os pontos de lixo próximos", afirma o superintendente do aeroporto Salgado Filho, Marco Aurélio Franceschi.
Se todos os trâmites administrativos correrem normalmente, a partir de março o Salgado Filho contará com a presença de falcões que serão utilizados para espantar os pássaros. De acordo com Franceschi, hoje será aberta a licitação para a contratação da empresa que fará o trabalho. "Será contratada uma empresa especializada e os falcões serão soltos em horários específicos para afastar as aves. No Chile essa medida é muito usada. No Brasil, somente o aeroporto da Pampulha, em Belo Horizonte, possui algo assim", ressalta Franceschi. Segundo o superintendente, garças e quero-queros são as aves que sobrevoam o aeroporto da Capital.
No Brasil, os três maiores aeroportos registram quase oito incidentes entre aviões e aves a cada mês. O Aeroporto Internacional Antônio Carlos Jobim, no Rio de Janeiro, lidera a lista de aeronaves que se chocam com pássaros. Em 2008, foram 50 registros. Aparecem, em seguida, os aeroportos internacionais de Guarulhos, com 25, e de Congonhas, com 16, ambos em São Paulo. Os dados são do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa).
Segundo o diretor técnico do Sindicato Nacional de Empresas Aeroviárias, Ronaldo Jenkins, incidentes com aves aumentam a cada ano, devido, principalmente, ao crescimento do tráfego aéreo e ao desmatamento, que gera um deslocamento dos pássaros para áreas com maior fluxo de ar, como os aeroportos. Os lixões e a ocupação irregular também são empecilhos para a segurança.
"Infelizmente, os aeroportos se tornam atrativos para as aves. Por outro lado, há a ocupação irregular do solo nas imediações das pistas, embora exista uma legislação do Conselho Nacional do Meio Ambiente, que trata da restrição de ocupação de área no entorno dos terminais e que criou a área de segurança aeroportuária. Apesar disso, ainda temos lixões, matadouros, curtumes, vazadouros de lixo, atividades que atraem aves", explica Jenkins.
Para tentar diminuir o número de acidentes aéreos deste tipo, foi criada a Comissão do Perigo Aviário, que é ligada ao Cenipa, da qual fazem parte órgãos governamentais, como Ibama e Infraero, e também empresas aéreas. Jenkins informou que os registros de incidentes são encaminhados para a comissão, mas ainda é limitada a redução de impactos com aves.
(Jornal do Comércio, 19/01/2009)