Apesar de não ser comum no Brasil, a combustão dos resíduos sólidos urbanos é uma alternativa à disposição em aterros bastante utilizada por países desenvolvidos, como Japão e Dinamarca. No caso dos plásticos, a técnica pode ser aplicada para produzir combustível, mas gera alguns compostos poluentes.
Uma pesquisa realizada na Escola Politécnica (Poli) da USP em conjunto com a Northeastern University, em Boston, Estados Unidos, testou a inclusão neste processo de uma etapa anterior à combustão, que é a pirólise (decomposição térmica, ou combustão sem oxigênio), e os resultados mostraram que a técnica reduz significativamente a emissão poluentes, como a fuligem e os hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (PAH). Além de poluentes atmosféricos, alguns PAH podem ser cancerígenos.
Para seu estudo, a mestre em engenharia de materiais Cecilia Korber Gonçalves utilizou amostras de polietileno (plástico usado em sacos e embalagens) e poliestireno (plástico usado em embalagens e na parte transparente de canetas). O polietileno foi escolhido por ser o plástico mais encontrado no resíduo sólido urbano brasileiro. E o poliestireno porque, apesar de ser o quarto plástico mais consumido no país, gera uma alta taxa de poluentes durante a combustão.
Ambas as amostras foram moídas e colocadas em fornos montados no Laboratório de Combustão, na Northeastern University. “Incluindo a pirólise no processo, identificamos uma emissão cerca de 10 vezes menor de fuligem e PAH após a combustão dos dois tipos de plástico em relação à emissão gerada quando é feita somente a combustão”, conta Cecilia.
Além de reduzir a quantidade de resíduos destinados aos lixões e aterros, o processo é útil na produção de energia, já que o plástico, por ser feito de derivados de petróleo, apresenta um alto poder calorífico – equivalente ao da gasolina e maior do que o carvão mineral. Mesmo com a quantidade de energia despendida na pirólise, o saldo final é positivo.
Penúltima da lista
Apesar das vantagens descritas, a pesquisadora destaca que a combustão não é a primeira opção como destino de resíduos sólidos: “Quando se levam em consideração as questões ambientais, a ação mais importante a ser tomada é redução da quantidade de plástico produzido. Em segundo lugar, vem a reutilização do material – reciclagem mecânica – seguida da reciclagem química. Aí sim, o que ainda restar pode ser destinado à reciclagem energética”, explica. “O último destino do material deveria ser o aterro, quando não restasse nenhuma outra alternativa – e entretanto é destino mais comum na maior parte do Brasil, onde são gerados mais de dois milhões de toneladas de resíduos plásticos por ano.”
Mais informações: email cekorber@hotmail.com, com Cecilia Korber Gonçalves. Pesquisa orientada pelos professores Jorge Alberto Soares Tenório e Yiannis A. Levendis.
(Por Luiza Caires, Agência USP, 16/01/2009)