Morte de animais no Estado indicou a ocorrência do vírus que fez duas vítimas desde dezembro
Encarados como vilões, os bugios, que desde outubro têm morrido vítimas de febre amarela, são na verdade aliados no combate à doença que matou duas pessoas no Estado. Na sexta-feira, o número de bugios encontrados mortos no Rio Grande do Sul chegou a 622.
Basta a morte de 10 animais em uma mesma área para que a suspeita de febre amarela ou de outra epizootíase (doença endêmica de animais) seja levantada e verificada. A ausência dos macacos já é percebida por moradores do interior de municípios da Região Noroeste, que relatam não mais ouvir o famoso e estrondoso ronco nas matas. A grande maioria das mortes é de bugio-preto, mas também há casos entre bugios-ruivos. Especialistas ressaltam que o bugio é tão vítima da doença quanto os humanos.
– Foi pela morte dos bugios que ficamos sabendo da febre amarela na Região Noroeste – destaca Gerson Buss, biólogo integrante do Programa Macacos Urbanos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), grupo que trabalha na observação do bugio-preto.
Em Porto Alegre, na próxima terça-feira, especialistas se reunirão na Secretaria Municipal de Meio Ambiente para debater formas de educar a população quanto à importância do animal. Uma das intenções, explica a bióloga Soraya Ribeiro, coordenadora do Programa de Conservação de Fauna Silvestre, é conscientizar que o transmissor da doença é o mosquito, e não o macaco.
–Se começarem a matar o bugio, não haverá mais sentinela – resume o biólogo Júlio César Bicca-Marques.
Foram confirmadas 23 mortes causadas pela doença
Os óbitos registrados pelo Estado dizem respeito aos casos que chegam à Secretaria Estadual da Saúde. Ou seja, trata-se das mortes em que técnicos das coordenarias regionais, da própria secretaria ou dos municípios são avisados, vão até o local e preenchem uma ficha de epizootíase. Nela, são informados quantos animais foram encontrados mortos no mesmo lugar, e se foi ou não possível coletar material para exame. Até o final da tarde de sexta-feira, a secretaria tinha a confirmação de que 23 entre os 622 óbitos foram causados pela febre amarela.
Bugio-preto
Espécie: Alouatta caraya
Família: Atelidae
Ordem: Primates
Distribuição: América do Sul
Hábitat: florestas e matas ciliares
Alimentação: herbívora (folhas, frutos e flores)
No Estado, o bugio-preto habita as matas ciliares da região oeste do Estado. Vive em pequenos grupos, com vários machos, sendo um deles o líder. O macho é preto, enquanto a fêmea e os filhotes têm uma coloração que varia do bege ao castanho claro
Segundo o Livro Vermelho da Fauna Ameaçada de Extinção no Rio Grande do Sul (2003), o bugio-preto encontra-se na categoria ameaçada/vulnerável
Bugio-ruivo
Espécie: Alouatta guariba clamitans
Família: Atelidae
Ordem: Primates
Distribuição: América do Sul
Hábitat: florestas de Mata Atlântica, matas com araucária, floresta estacional
Alimentação: herbívora (folhas, frutos e flores)
Habita as matas de encosta de morro e restingas da Mata Atlântica e as matas com araucária. Vive em grupos de seis a oito animais, sendo um macho adulto, de duas a três fêmeas e seus filhotes
Segundo o Livro Vermelho da Fauna Ameaçada de Extinção no Rio Grande do Sul (2003), o bugio-ruivo consta na categoria ameaçada/vulnerável
Fonte: Fonte: Fundação Zoobotânica do RS
Saiba mais
SINTOMAS
Doença infecciosa, causada por vírus, ataca o fígado e outros órgãos. A gravidade é variável, podendo levar à morte. A maior incidência é entre janeiro e abril, quando o transmissor se prolifera com facilidade.
Febre, dor de cabeça, calafrios, náuseas, vômito, dores no corpo, icterícia (a pele e os olhos ficam amarelos) e hemorragias (de gengivas, nariz, estômago, intestino e urina)
TIPOS
Silvestre
Característico de matas e vegetações à beira de rios, é transmitido pelas fêmeas de mosquitos dos gêneros Haemagogus e Sabethes e atacam, geralmente, macacos. O homem é considerado hospedeiro acidental. É o tipo registrado no Rio Grande do Sul
Urbana
Transmitido pelo mosquito Aedes aegypti, o mesmo da dengue
PREVENÇÃO
Vacinação
Recomendada para quem viaja a áreas de risco, é gratuita e está disponível em postos de saúde e em alguns aeroportos. Deve ser aplicada 10 dias antes da viagem e tem validade de 10 anos
Contraindicações
Crianças com menos de nove meses
Portadores de imunodepressão transitória ou permanente, induzida por doenças, como neoplasias e aids, por alguns tratamentos, como uso de imunossupressoras e radioterapia
Gestação (a restrição deve ser analisada em caso de surtos) Reações anafiláticas relacionadas a ovo de galinha e seus derivados ou outras substâncias presentes na vacina
TRATAMENTO
Identificados os sintomas, o paciente deve ser hospitalizado
Não há medicamentos contra o vírus
Repouso com reposição de líquidos e das perdas sanguíneas, quando indicado
Nas formas graves, encaminhamento para UTI
(Por Carla Dutra e Silvana Castro, ZH, 18/01/2009)