A agricultura africana precisa de uma "revolução verde". O número crescente de africanos ameaçados pela escassez e uma onda de tumultos por causa da fome, em 2008, consequência da disparada do preço dos artigos de primeira necessidade, importados em grande quantidade por não serem produzidos localmente, relembrou isso com força . Para operar essa revolução e conseguir alimentar sua população (estimada em quase 2 bilhões de habitantes em 2050), o continente deve, em especial, conhecer melhor o estado de seus solos. Na terça-feira 13 de janeiro, o Centro Internacional de Agricultura Tropical (CIAT) anunciou, em Nairóbi, o lançamento de um projeto, o Serviço de Informação dos Solos Africanos (ASIS), que promete elaborar, em até quatro anos, um mapa numérico completo em escala continental.
Ainda que o estudo metódico da natureza dos solos para a agricultura não seja uma disciplina nova (ela surgiu há três séculos na Rússia), o projeto ASIS deverá reunir de maneira inédita dados já existentes com aqueles que as equipes fornecerão sobre o terreno. Em sessenta "postos de vigilância" distribuídos pelas zonas aráveis do continente (menos da metade de sua superfície total), um procedimento de análise particular, a espectroscopia de infravermelho - cujo um dos codescobridores é nigeriano - , será utilizado. Seus resultados, combinados com imagens capturadas por satélite, vão compor um mapa onde deverão figurar a natureza dos solos e seu nível de degradação.
Esse levantamento servirá de base aos governos e às organizações não-governamentais para orientar grandes campanhas ou dar aconselhamento aos agricultores, transmitidos, por exemplo, por telefones celulares. O ASIS se propõe então a fazer um levantamento do estado de saúde dos campos africanos. Um solo é considerado sadio quando ele consegue ao mesmo tempo abrigar um ecossistema, produzir colheitas, armazenar o carbono da atmosfera e reter as águas da chuva. Entre os fatores que põem em risco essa saúde está a superexploração.
Na África, a falta de fertilizantes, muito raros e muito caros, força os camponeses a explorar suas terras além de sua capacidade de regeneração, lavando as substâncias nutritivas dos solos. Em média, os agricultores africanos só utilizam 8 kg de adubo por hectare por ano, "contra 200 na China", lamenta o dr. Nteranya Sanginga, diretor do Instituto de Biologia e de Fertilidade dos solos tropicais no CIAT. No total, 500 milhões de hectares de terras agrícolas africanas estão degradadas. O prejuízo, para todo o continente, está avaliado em 30 bilhões de euros por ano.
No Quênia, onde a agricultura representa 64% das exportações, o governo anunciou, na segunda-feira dia 12 de janeiro, o decreto de um estado de emergência nacional, estimando que 10 milhões de quenianos estão ameaçados pela fome.
Paralelamente, o país, assim como a Tanzânia e o Mali, se prepara para seguir o exemplo do Maláui, onde uma política de subsídios maciços para a compra de fertilizantes permitiu a saída de uma situação de déficit alimentar grave em menos de dois anos.
Mas as políticas de fertilização maciça aplicadas na Ásia a partir dos anos 1960, que permitiram a este continente passar da dependência alimentar ao estado de exportador, na verdade tiveram um efeito devastador sobre o meio-ambiente. Quarenta anos mais tarde, uma dosagem mais sutil de diferentes tipos de adubo, de origem orgânica ou petroquímica, aparece como uma necessidade. Para ajustar esses coquetéis às diferentes regiões, é necessário conhecer o estado exato dos solos.
"Em muitos aspectos, conhece-se melhor o solo de Marte do que o da Terra, garante Pedro Sanchez, responsável pelo departamento de agricultura tropical do Instituto da Terra da Universidade de Columbia (Nova York), dirigido pelo economista Jeffrey Sachs. A ideia de lançar esse mapa geral dos solos da África veio de forma progressiva. Jeffrey Sachs me perguntou um dia: qual é a extensão da erosão pluvial na Nigéria? Não se sabia. Em seguida, ele se perguntou: que quantidade de fertilizante seria necessária para toda a África? Quanto isso custaria?
O mapa do ASIS deverá trazer respostas a todas essas questões, vitais para a África, e constituir um instrumento de medida imprtante na busca pela autossuficiência alimentar pelo continente.
(Por Jean-Phillippe Rémy, Le Monde, UOL, 15/01/2009)