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seringais amazônia
2009-01-16
Projeto que estimula o artesanato amazônico se tornou alternativa de desenvolvimento sustentável no estado do Amazonas

Um projeto desenvolvido no Amazonas pretende proporcionar sustentabilidade econômica à comunidade extrativista por meio de produtos artesanais e manejo adequado dos recursos naturais.  Trata-se do projeto "Linha do Tucum, Artesanato Amazônico", iniciativa de apoio à economia sustentável de famílias extrativistas que vivem na Vila Ecológica Céu do Juruá, unidade produtiva do Seringal Adélia- Ipixuna.

O artesanato,confeccionado a partir da extração de produtos florestais não madeireiros, representa uma alternativa ambientalmente sustentável e economicamente viável de obtenção de renda para as famílias que vivem na floresta.  A atividade ainda promove o resgate de antigas tradições aprendidas a partir do contato entre as primeiras gerações de seringueiros e tribos indígenas da região.

Na região do seringal Adélia, conhecida como baixo Juruá, muitas pessoas são descendentes de tribos indígenas locais, como os Katukina e os Kulina, que aprenderam com seus antepassados o uso da linha do Tucum (Astrocaryum sp.), palmeira espinhosa que fornece uma linha de alta durabilidade, usada para a confecção de redes de dormir, linhas de pesca, malhadeiras (tarrafas) e artesanato.  O coco da palmeira também é aproveitado para a fabricação de instrumentos musicais, como chocalhos e adornos.  A produção é uma tradição que vem se perdendo, por se tratar de um processo muito trabalhoso, que exige a retirada das folhas da palmeira, sem que seu caule espinhoso seja cortado.  Os espinhos grandes e numerosos dificultam o acesso às folhas e frutos comestíveis da planta.

O manejo, também incluso no projeto, tem por objetivo preservar as palmeiras, a partir da previsão de que sejam retiradas somente duas folhas por árvore.

Educação ambiental e instrução profissional como aliadas
O projeto "Linha do Tucum" teve início no último mês de julho, e suas primeiras atividades foram a implementação de oficinas de fiação e educação ambiental, a construção de uma casa das máquinas e o começo da instalação de uma oficina de montagem do artesanato, que ainda está em andamento.  Outra medida foi a implantação de um banco de sementes no local, com coleta e cultivo de espécies nativas.  Tais atividades envolveram praticamente todos os setores da comunidade.

As oficinas da linha do Tucum contam com a participação de aproximadamente trinta mães-fiadeiras, acompanhadas de seus filhos.  As aulas vêm sendo ministradas regularmente duas vezes por semana, durante todo o dia, com almoço e lanche fornecidos pelo projeto.  Nos outros dias, as fiadeiras trabalham em casa.

As etapas da produção da linha são inúmeras.  Em outubro, as oficinas tinham por objetivo ensinar a retirada do linho e a feitura dos fusos de madeira a serem empregados na fiação da linha.  Cada professora ou aluna é cadastrada com seus dados pessoais, horários de chegada e saída e produção diária (no caso, a tiragem do linho), que é pesada na balança e anotada na ficha pessoal.  O plano é que as oficinas semanais continuem até julho de 2009, ensinando a cada mês uma nova etapa na arte da fiação da linha do Tucum.

As oficinas de beneficiamento das sementes acontecem paralelamente, sendo fundamentais para a produção do artesanato a coleta e o tratamento das sementes exóticas da região.  Também fazem parte do projeto oficinas de educação ambiental/agroflorestal, ministradas para jovens e adultos na escola da vila, sob supervisão do professor José Reis.

As aulas para adultos acontecem aos sábado, trazendo temas, como ecologia, ecoturismo, educação ambiental, manejo do lixo, cuidado com a água e a saúde e bons hábitos de higiene física e mental.  Já as aulas para os jovens são oferecidas durante a semana, de manhã e à tarde, com a abordagem de temas relacionados à ecologia, como ecossistemas, interações ecológicas, cadeia alimentar, agrofloresta e conservação dos recursos naturais.

Durante o processo, ainda vêm sendo registradas informações importantes para a elaboração de um diagnóstico sociocultural e ambiental da comunidade, que servirá de base para a elaboração de um livro cartilha a ser lançado no final do projeto.

A equipe do Instituto de Estudos da Cultura Amazônica (IECAM), ONG responsável pelo projeto, articulou parcerias importantes para divulgação das atividades, capacitação dos artesãos da comunidade e expansão da iniciativa aos municípios vizinhos.  Foram feitas parcerias de cooperação com o Jardim Botânico, Colegiado do Departamento de Filosofia e Ciências Sociais da UNIRIO, Parque Zoobotânico da Universidade Federal do Acre e Departamento de Ciência Biológica da Universidade da Floresta em Cruzeiro do Sul, dentre outros.  A procura por cooperação com as associações de produtores de Rodrigues Alves (AC) também abriu a possibilidade de inclusão dos artesãos desse município nas oficinas de capacitação de 2009.

A comunidade
Na Vila Ecológica Céu do Juruá vivem atualmente cerca de 20 famílias, totalizando 140 pessoas.  A maior parte dos habitantes está a cerca de dez quilômetros de distância do rio Juruá na época da seca, o que equivale a três horas de caminhada na mata.  Existem, porém, algumas famílias que vivem na beira do rio.

A área que corresponde à antiga colocação dos Estorrões permaneceu abandonada por quase 50 anos quando, em meados da década de 90, descendentes dos antigos seringueiros retornaram ao seringal Adélia, reunindo parentes e agregados dispersos ao longo do rio Juruá para formar a Vila Ecológica Céu do Juruá.

A comunidade sobrevive de atividades como a pesca, extrativismo e agricultura de subsistência.  As palmeiras, numerosas na região, são importantes fontes de alimento.

Histórico
Desde a queda da borracha, em 1946, as famílias de seringueiros passaram a buscar outras alternativas de sobrevivência na floresta ou migraram para os centros urbanos em processo de formação na época, como Rio Branco (AC).

A necessidade de recuperação da linha do tucum surgiu quando o artesanato começou a depender da utilização de linhas de nylon e estruturas de metal trazidas do Sudeste, em processo demorado e caro.  Apenas cinco mulheres antigas na comunidade conhecem o processo que envolve a fiação, ficando o artesanato comprometido com a dependência do fio de nylon vindo de São Paulo.

Dessa forma, o uso da linha do Tucum na confecção do artesanato, além de promover o resgate do conhecimento tradicional da comunidade, representa um diferencial da produção artesanal, que agrega valor cultural e econômico ao trabalho dos artesãos da Vila Ecológica Céu do Juruá.

O projeto "Linha do Tucum, Artesanato Amazônico" é patrocinado pela Petrobrás a partir da Lei de Incentivo à Cultura do Ministério da Cultura (MinC).

(Amazonia.org.,br, 16/01/2009)


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