A liderança Valmireide Zoromará, 42 anos, do povo Pareci, assassinada a tiros, no dia 9 de janeiro, enquanto pescava com sua família, já havia sofrido ameaças por causa da luta para recuperar a terra de seu povo na região de Diamantino, Mato Grosso. O assassino confesso, Ismael Lima, era gerente da fazenda de Sebastião de Assis, um dos fazendeiros que já havia entrado em confronto com os Pareci.
Valmireide estava acompanhada de 13 pessoas, entre elas, filhos e o esposo, que foi atingido no ataque. Valdenir Amorim está internado, num hospital em Tangará da Serra, em estado grave. Segundo seu filho, Kleberson Zoromará, o pai foi atingido na cabeça e a perspectiva é de que ele fique com graves seqüelas.
Kleberson afirma que o assassino estava acompanhado de outro homem, se aproximou discretamente dos indígenas e começou a atirar. Valmireide foi atingida pelas costas. Segundo informações da delegacia da Polícia Civil de Diamantino, que investiga o caso, Ismael afirmou estar sozinho e que atirou em vultos, sem saber que eram os indígenas. Kleberson, no entanto, afirma que quando desceram para o açude foram vistos pelo assassino. O inquérito deve ser encaminhado para a Vara Criminal de Diamantino na próxima semana.
A família de Valmireide espera que a Justiça resolva o caso e lamenta a falta que ela fará para os 6 filhos e para todo o povo. “Ela era uma lutadora firme, por isso ao longo do tempo foi sofrendo algumas ameaças. Ela vai fazer muita falta para nossa luta”, afirmou a prima Maria Helena.
Líder visada
Indigenistas e outras lideranças do Mato Grosso também acreditam que a intenção do ato era matar Valmireide, principal liderança do grupo, conhecida por todos na região. Em outubro de 2008, durantes os debates sobre o Zoneamento Socioecônomico e Ecológico do Mato Grosso, Valmireide reagiu indignada a um fazendeiro que afirmou não haver índios na região de Diamantino. Na reunião, a filha de Valmireide, Kelly Cristina Zoromará disse que sua mãe retirou-os da aldeia, levando-os para Nova Marilândia, por que eram ameaçados de morte, mas que iriam lutar pela terra até o fim.
“Eles queriam eliminar uma pessoa chave para enfraquecer a luta”, afirma a liderança Rony Azoinayce, outra liderança Pareci. Rony, que é de outra terra dos Pareci (localizada a 100 km de Diamantino), lembra que a tensão entre a família de Valmireide e os fazendeiros de Diamantino acirrou há cerca de 10 anos atrás, época da primeira demarcação da terra Estação Pareci.
Histórico
Em 1996, a terra Estação Pareci, próxima dos municípios de Diamantino e Nova Marilândia, foi declarada, com 3.620 hectares de extensão, pelo Ministério da Justiça. Em fevereiro de 1999, a portaria de declaração da terra indígena foi anulada, por que não estaria de acordo com as regras do Decreto 1.775, que regula o processo de demarcação desde 1996. Em 2005, a Fundação Nacional do Índio (Funai) designou a antropóloga Siglia Doria para coordenar novos estudos sobre a terra. Em abril de 2007, foi criado um novo grupo, sob coordenação da mesma antropóloga, para estudos complementares. Estes estudos, segundo prazos da portaria, deveriam ter sido publicados até novembro de 2008.
Segundo a Funai, existe a possibilidade do tanque onde ocorreu o crime “estar dentro da área que está em estudo para a demarcação da Terra Indígena Estação Pareci, mas ainda não temos esta confirmação.” A Fundação afirma que o estudo está em fase de revisão e “ainda não se tem uma data para que seja publicado”.
(CIMI, 15/01/2009)