O
incêndio ocorrido no início do ano no depósito de madeira destinada à produção de pasta de celulose da Aracruz traz à tona novamente as questões relacionadas aos processos de implementação e ampliação das atividades da cadeia produtiva da celulose no Rio Grande do Sul.
Mediante à crise financeira global, as empresas do setor tiveram perdas significativas, especialmente as principais investidoras aqui no RS (Aracruz e Votorantin). No final de 2008 elas anunciaram a prorrogação, ou o cancelamento de seus investimentos, com resultados diretos na redução dos poucos empregos gerados, através de demissões nas empresas terceirizadas de fornecimento de mudas, plantio e manejo das áreas plantadas. O fato é que o incêndio ocorrido traz mais uma vez a Aracruz ao centro das atenções como vítima de uma ação supostamente arquitetada e previamente articulada por setores da sociedade civil organizada, como ocorreu anteriormente na ocupação das áreas de viveiros e estufas experimentais.
Ora, me parece que ninguém “chuta cachorro morto”, me perdoem a expressão, mas quem teria a intenção de causar um fato político que coloca a empresa como vítima mediante a sociedade? No momento em que todas as manchetes denunciam as aventuras e perdas da empresa no cassino do mercado financeiro global, quando sua imagem entra em descrédito e seu discurso desenvolvimentista não cativa nem mais os setores mais conservadores e liberais, seria necessária uma jogada para colocar novamente a empresa no centro das atenções, um fato gerador, uma virada de mesa. E me parece que o momento é muito oportuno. Na virada do ano uma certa pirotecnia poderia ser o instrumento necessário para este objetivo, apresentar para o público a imagem de uma empresa acuada e fragilizada, quando na realidade sua situação é de uma empresa quebrada economicamente.
Desta forma, atribuir os fatos ocorridos a uma ação organizada e proposital é demasiado oportuno. Uma questão que deve ser levada em conta é que na ocupação feita pelas mulheres camponesas em nenhum momento se omitiu, ou buscou-se artifícios para esconder seus objetivos, ou quem foram os responsáveis e as pessoas envolvidas, muito pelo contrário, foi uma ação assinada e pontualmente identificada, com objetivo claros. Neste caso específico do incêndio, não existe uma organização ou movimento que busca para si a autoria da ação. Existem indícios e uma articulação muito forte para identificar possíveis culpados, sendo o tema tratado como ato criminoso, onde a hipótese de um acidente foi descartada inicialmente.
Mas não podemos ser ingênuos, não teria sentido fazer uma ação de tal magnitude e repercussão, sem colher os louros do resultado. É assim que funciona: quem tem a intenção de agir, tem a coragem de se identificar. Creio que este caso é uma tentativa desesperada de limpar a imagem da empresa e colocá-la numa posição favorável mediante a opinião pública. Muita pirotecnia e fogo de palha. Ou melhor, de eucaplito.
(Por Felipe Amaral, Instituto Biofilia / Coordenação do Movimento Gaúcho em Defesa do Meio Ambiente, 15/01/2009)