RIO - Em vez usar de substâncias tóxicas para matar o mosquito da dengue, a Prefeitura de Campos dos Goytacazes optou por um programa de ataque ao Aedes aegypti que não agride o meio ambiente e as pessoas. Desde agosto do ano passado, a cidade emprega o controle biológico e o monitoramento do vetor. As estatísticas aprovam a estratégia, cuja as principais ferramentas são o uso de um bacilo e a distribuição de armadilhas para as fêmeas do Aedes. A invenção funciona como sensor para um mapeamento das áreas de risco.
– Em 2008, tivemos mais de 17 mil casos, fomos a terceira cidade do estado que mais registrou infectados. O sistema de mapeamento dos focos passou a ser feito em agosto e, em outubro, não registramos nenhum caso. Em novembro, tivemos dois registros e, em dezembro, quatro casos. Nesse ano, não tivemos nenhuma ocorrência – contabiliza Vera Cardoso de Melo, diretora do Centro de Controle de Zoonoses (CCZ), órgão ligado à Secretaria Municipal de Saúde.
Redução de dois terços
Outro número positivo é o Levantamento do Índice Rápido do Aedes (Lira), realizado pelo Ministério da Saúde. Em 2007, a pesquisa apontava 3,4 casas com presença do mosquito em um grupo de 100 residências. Em dezembro de 2008 a taxa havia caído para 1,1.
Os agentes sanitários distribuem o Bacillus thuringiensis israelensis (BTI), capaz de matar a larva do mosquito da dengue. O uso do bacilo pode ser em forma de pó, grânulos ou líquido, depende de onde será aplicado. Porém, é o Monitoramento Inteligente da Dengue (Miden) que permite um combate estratégico à doença. Tratam-se de armadilhas colocadas a 250 metros uma das outras para capturar a fêmea do mosquito. Ao todo, são 926 na cidade.
– Simula-se um criadouro com água parada, odor de capim e uma fita adesiva. Daí, toda semana um agente visita o local e contabiliza o número de vetores que ficam presos. Imediatamente, a informação é passada, via internet, para uma central em Belo Horizonte, e isso resulta num combate dirigido – descreve Vera a tecnologia desenvolvida pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
O BTI tem resultado imediato para matar a larva, e o efeito dura aproximadamente 20 dias. Por isso, as visitas feitas por 11 vigilantes são semanais. As armadilhas para fazer o monitoramento ficam em casas de moradores que se oferecem voluntariamente.
– É sempre o mesmo agente sanitário que vem aqui, nós já o conhecemos. Ele nos fala da situação da dengue, tira nossas dúvidas, dá instruções. E eu passo para os vizinhos, falo para não jogarem lixo no terreno baldio que há na rua porque encontraram dois, três mosquitos em casa. O pessoal respeita – conta Fernando Andrade, representante de vendas e morador do bairro Penha, garantindo que o número de Aedes capturados tem caído.
A diretora do CCZ reafirma a vantagem do controle biológico.
– Quando disseminamos inseticida, estamos gerando um desequilíbrio ecológico, porque outros insetos morrem também. Além do mais, colocamos em risco as pessoas. Várias sofrem de alergias, problemas de pele e irritações. O uso de larvicida pode ser mais trabalhoso, mas é melhor para todos.
(Por João Paulo Aquino, Jornal do Brasil Online, 14/01/2009)