Para o governador do Mato Grosso, Blairo Maggi, o governo do estado está trabalhando para manter o estado no "trilho do desenvolvimento econômico e social". Em entrevista exclusiva ao site Amazônia.org.br, Maggi faz um balanço sobre o seu governo e diz que espera que o Mato Grosso seja reconhecido como "o estado que consegue altos índices de produtividade sem devastar suas florestas".
Maggi defende ainda que os mecanismos implementados pelo governo estadual para controlar o desmatamento já mostram resultado, exemplificando por meio dos dados do Programa de Monitoramento da Floresta Amazônica Brasileira por Satélite (Prodes), sistema do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). "De 2003, quando tomei posse, até o momento atual, a taxa anual de desmatamento caiu de 11.000 quilômetros quadrados para cerca de 3.000 quilômetros quadrados".
Confira abaixo a entrevista.
Para começar, gostaria que o senhor fizesse um breve balanço sobre seu governo. Em que o estado do Mato Grosso avançou em 2008 e o que falta avançar?
Um dos desafios que me impus ao ser eleito governador de Mato Grosso foi trazer para o setor público alguns dos bons fundamentos que havia aprendido na iniciativa privada como o controle das finanças e o bom uso dos recursos disponíveis. É lógico que há uma grande diferença entre esses dois mundos, mas acredito que a experiência no setor privado contribui para darmos mais eficiência à máquina do estado.
Hoje praticamente todas as compras são feitas no sistema de pregão eletrônico, reduzindo as despesas de custeio. Com um estado mais enxuto e bons padrões de governança, as empresas passaram a acreditar mais no Mato Grosso. Os investimentos privados no estado já somam seis bilhões de reais. Também investimos bastante em logística para o escoamento da produção agrícola, que responde por 70% do PIB da economia do estado. Construímos cerca de 2.000 quilômetros de estradas, um número maior do que o que havia sido feito em toda a história do Mato Grosso.
Como que o estado do Mato Grosso se prepara para enfrentar os efeitos da crise financeira internacional?
Nos preocupamos com isso desde as primeiras notícias sobre a crise financeira nos Estados Unidos. De fato, o momento é muito grave, sem precedentes, e não saberemos os efeitos que a crise terá no futuro.
Determinei imediatamente aos secretários de estado uma revisão das despesas em cada pasta, com o intuito de diminuí-las em até 30%. Também atendemos a um pleito do setor de comércio e indústria para ampliar o prazo para recolhimento dos impostos estaduais. Com isso, estamos contribuindo para que haja maior capital de giro no caixa das empresas, o que ajuda a movimentar a economia.
Como controlar as altas taxas de desmatamento da Amazônia?
Usando os mecanismos que já temos implementado. De 2003, quando tomei posse, até o momento atual, a taxa anual de desmatamento caiu de 11.000 quilômetros quadrados para cerca de 3.000 quilômetros quadrados. Os dados são do Prodes, o sistema de monitoramento de desmatamento que serve de referência para as ações do governo federal. Isso só foi possível porque aumentamos o orçamento da Secretaria Estadual de Meio Ambiente em 200% e reforçamos seu efetivo.
Da lista do governo federal com os municípios que mais desmatam a Amazônia, 19 estão no Mato Grosso. O governo tem alguma proposta especifica para esses municípios?
A proposta já existe e virou lei estadual. Trata-se do MT Legal, um projeto que visa não só a regularização ambiental das propriedades que estão nestes 19 municípios, mas de todas as 140 000 que existem em todo o estado.
Pelo projeto, os proprietários que aderirem ao MT Legal e regularizarem o seu passivo ambiental não serão penalizados com multa ou prisão. Mas quem desmatar depois de ter sua situação regularizada sofrerá todas as sanções previstas. A idéia é simples: trazer todos para o campo da legalidade, estabelecendo regras claras e objetivas.
No momento, só estamos esperando uma sinalização do governo federal, que está analisando a lei aprovada pela Assembléia Legislativa do Mato Grosso, para colocá-la em prática. Isso é importante porque não queremos que as medidas aprovadas no nosso estado depois sejam contestadas na esfera federal.
Em 2008, o senhor se reuniu com índios Enawenê-nawê, a respeito de um impasse envolvendo hidrelétricas no rio Juruena. O governo pretende continuar o diálogo com os índios? É possível resolver esse impasse sem prejudicar os índios?
O governo continuará dialogando com os índios, com sempre dialogou. Temos parcerias importantes em áreas como a saúde e a educação indígenas, em especial nas regiões do Xingu e do Araguaia. Mas o governo também entende que atos violentos como depredações e saques em canteiros de obras não são uma maneira correta e legal de ação. É possível, sim, resolver esse impasse, com a participação serena e pacífica de todos os envolvidos.
Quais as suas expectativas para os últimos anos do mandato?
Continuar mantendo o Mato Grosso no trilho do desenvolvimento econômico e social, com respeito ao meio ambiente. A vocação do estado para a agropecuária é inequívoca. Já somos os maiores produtores de soja, algodão e carne, e o segundo em milho. Mas queremos também ser reconhecidos como o estado que consegue altos índices de produtividade sem devastar suas florestas.
Estamos perseguindo esse caminho e temos, inclusive, uma estratégia em consolidação. É a verticalização da economia. Em vez de continuarmos a ser grandes exportadores de commodities "in natura", vamos estimular a produção e comercialização de produtos industrializados, como carnes assadas e embaladas. Isso agregará maior valor a estes produtos, possibilitando que o estado mantenha ou até mesmo amplie o atual ritmo de crescimento econômico sem que seja necessário a abertura de novas áreas de floresta.
A verticalização da economia também tornará possível diminuir em dezenas de milhões de toneladas o transporte de mercadorias pelo mundo, contribuindo conseqüentemente para a redução da emissão de poluentes.
(Amazonia.org.br, 15/01/2009)