Começaram as articulações para implantar um projeto envolvendo Práticas Interativas e Complementares nas aldeias indígenas do Estado. Segundo uma das maiores especialistas em homeopatia no Estado, Ana Rita Vieira Novaes, a intenção é diagnosticar a situação dos indígenas e resgatar, junto com a comunidade detentora do conhecimento, as práticas fitoterápicas.
“Vamos conversar com eles. A proposta já foi apresentada ao Conselho Indígena e foi bem recebida. Agora vamos conversar com os próprios índios. Eles estão perdendo os conhecimentos de fitoterapia, os conhecedores estão morrendo e é uma oportunidade para resgatar esta prática”, ressaltou Ana Rita.
Segundo ela, além de resgatar a prática fitoterápica, a intenção é implantar a homeopatia e a acupuntura nas aldeias e ainda desenvolver rodas de conversas envolvendo temas relacionados à saúde, ao meio ambiente e à cultura. “Queremos discutir a saúde de uma forma ampliada”, ressaltou.
Para isso, a previsão é que uma equipe multidisciplinar, envolvendo médicos, odontólogos, enfermeiros, farmacêuticos, entre outros profissionais, participem dos trabalhos.
Além disso, a expectativa é fechar parceria com a prefeitura de Aracruz, Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), entre outras entidades que tiverem profissionais aptos e disponíveis para desenvolver o trabalho nas sete aldeias indígenas Tupinikim e Guarani no Estado.
A idéia vem sendo discutida desde a realização do Seminário e Fórum Estadual de Ensino das Práticas Integrativas e Complementares, realizado em novembro de 2008. Na ocasião, a índia Deusdéia de Souza Pego ressaltou a problemática da perda dos conhecimentos da comunidade indígena sobre suas práticas medicinais, o crescimento do uso de medicamentos alopáticos e o alcoolismo nas aldeias, ressaltando o interesse de resgatar estes conhecimentos e emocionando a platéia.
A partir daí, começaram as articulações para trabalhar a fitoterapia com os índios de maneira harmônica, indo além do incentivo ao uso de técnicas fitoterápicas e atingindo um campo mais complexo de resgate da própria auto-estima destas comunidades, que são verdadeiros detentores do poder.
Segundo Rita, uma reunião – ainda sem data – está programada para os próximos dias para apresentar o projeto aos índios e esclarecer as dúvidas sobre homeopatia e acupuntura.
Ao todo, há no Espírito Santo 2.488 índios nas sete aldeias no norte do Estado. Após a reconquistas dos 11.009 hectares que estavam sob a posse da Aracruz Celulose, as comunidades estão buscando o reflorestamento e a recuperação da área degradada pelos eucaliptais, com o objetivo de resgatar suas tradições que vinham sendo abandonadas devido à pressão sofrida pelas populações.
Com a devastação promovida na região, os índios se viram sem caça, sem terra produtiva e sem nenhuma atividade para garantir a sustentabilidade das famílias. Neste contexto, eles foram obrigados a se envolver com a comunidade externa, o que trouxe, além de novos hábitos, doenças, remédios, outras religiões.
(Por Flavia Bernardes, S
éculo Diário, 15/01/2009)