Se a humanidade quiser evitar os efeitos catastróficos das alterações climáticas deve ter emissões de dióxido de carbono (CO2) próximas do zero até 2050 e “negativas” depois disso, alertou ontem o Worldwatch Institute.
A comunidade internacional está a preparar o combate contra as alterações climáticas de forma a garantir que as temperaturas médias globais não aumentem mais de dois graus Célsius, em relação à época da Revolução Industrial. Mas um cientista do Worldwatch Institute diz que mesmo esta meta é demasiado perigosa.
As emissões “devem ser reduzidas de níveis de pico para 1 grau Célsius o mais depressa possível”, alertou William Hare, co-autor do relatório “State of the World 2009”. “A esse nível podemos ver que alguns dos riscos desaparecem”.
Neste momento, a temperatura média do planeta já aumentou 0,8 graus C desde 1850, lembrou Hare, que trabalha no Potsdam Institute for Climate Impact Research, na Alemanha.
Hare defende que as emissões mundiais de CO2 precisam atingir o seu pico em 2020, depois descer 85 por cento, em relação a níveis de 1990, até 2050 e manter a tendência até serem “negativas”, ou seja, com mais CO2 a ser absorvido do que emitido na segunda metade deste século.
O peso de reduzir as emissões de gases com efeito de estufa (GEE) deve cair mais sobre os países ricos do que sobre os pobres, defende Hare, segundo o qual as nações industrializadas devem conseguir reduções de 90 por cento até 2050.
2009 será um ano chave?
Mas mesmo com estas mudanças drásticas, o mundo arrisca-se a ter de enfrentar um aumento adicional de 1 grau C porque o impacto das emissões de GEE passadas ainda não foi sentido nas temperaturas à superfície, alerta o relatório “State of the World 2009”.
Este ano pode ser crucial no movimento contra as alterações climáticas, considera Robert Engelman, co-autor do relatório. “Os cientistas têm mais certezas e estão mais preocupados, os cidadãos estão mais envolvidos do que nunca, o próximo Presidente dos Estados Unidos deverá levar para a Casa Branca um compromisso sólido de limitar e reduzir as emissões do seu país”, lembrou.
Conscientes disto mesmo, ontem em Phoenix os membros da Sociedade americana de meteorologia pediram a Barack Obama, que será Presidente dos Estados Unidos a 20 de Janeiro, para os próximos cinco anos um investimento de nove mil milhões de dólares (cerca de 6,7 mil milhões de euros) em satélites e investigação para preparar a chegada de furacões, tornados e incêndios e estudar as relações entre estes fenómenos e as alterações climáticas.
Engelman notou ainda que no final do ano, em Dezembro em Copenhaga, a comunidade internacional deverá acordar sobre o sucesso do Protocolo de Quioto. Esta cimeira poderá instituir uma nova “arquitectura financeira” que desencoraje as emissões de GEE e que premeie as acções que retirem essas emissões da atmosfera. Como exemplos deu o comércio de emissões, impostos e melhores créditos e investimentos para os países passaram a economias de baixo carbono.
“O que está em causa não é apenas a natureza como a conhecemos, mas muito provavelmente a sobrevivência da nossa civilização. Este vai ser um ano verdadeiramente interessante”, comentou Engelman.
Sobre o relatório “State of the World 2009”, Rajendra K. Pachauri, presidente do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC), comentou: “a mensagem mais forte (...) é esta: se o mundo não tomar acções atempadas e adequadas, os impactos das alterações climáticas podem ser extremamente prejudiciais e ultrapassar a nossa capacidade para nos adaptarmos”.
(Reuters, Ecosfera, 14/01/2009)