Em dificuldade financeira, terceirizada deixa de cumprir até irrigação; falta gasolina para operar motosserras
Durante as férias, o Parque do Ibirapuera enfrenta dias de caos. Por problemas financeiros, a empresa responsável pela limpeza, manutenção e jardinagem, a Servimarc, deixa de cumprir serviços essenciais para manter limpos os 1,5 mil metros quadrados de uma das mais procuradas áreas verdes de São Paulo. Os problemas vão de coleta de lixo à irrigação das plantas, colocação de papel higiênico nos banheiros ao roçado dos gramados.
Segundo a administração do Ibirapuera, problemas na manutenção são verificados desde julho do ano passado, mas se intensificaram em dezembro e neste mês - exatamente os meses de maior procura, quando o número de visitantes chega a 200 mil por dia. Desde julho, a Servimarc - responsável por 150 funcionários, entre varredores, técnicos de manutenção e jardineiros - foi notificada ao menos uma vez por mês por descumprimento do contrato.
A empresa é paga pela Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente para manutenção do parque desde 2002, em contratos renovados anualmente por meio de licitação - o atual termina em 28 de fevereiro e custa R$ 3,5 milhões. Ao menos desde o ano passado, a administração percebe problemas no cumprimento de cláusulas - em 2008, a empresa foi multada em R$ 154 mil.
A ineficiência na manutenção atinge todas as áreas do parque - vai de falta de gasolina para a operação de roçadeiras e motosserras à inexistência de peças para o carregamento da bateria dos carros elétricos que transportam o lixo. Plantas e gramados do Ibirapuera também sentem os problemas: por dificuldades na contratação de um caminhão-pipa, não há irrigação desde 18 de novembro. A lavagem de pisos e o reabastecimento das caixas d?água foram impedidos nesse período.
Além disso, por causa das dificuldades no serviço de poda, ervas daninhas infestaram os gramados. Agora, segundo relatórios técnicos, será necessário deslocar jardineiros por um ano para retirar as pragas. Os problemas chegaram também aos 16 banheiros públicos. Hoje, são destinados dois rolos de papel higiênico por dia para cada sanitário do Ibirapuera; em outros anos, segundo relato de funcionários antigos, havia oito rolos.
Num passeio pelo Ibirapuera, a quantidade de sacolas verdes e azuis de lixo acumuladas chama a atenção. Em operação normal, o transporte das sacolas até o depósito, próximo ao portão 5, é realizado de hora em hora. Por falta de carrinhos elétricos, a remoção agora demora até quatro horas.
No depósito, constata-se novamente a extensão dos problemas. Lixeiras abarrotadas não são esvaziadas desde 29 de dezembro, segundo a administração do parque. O problema, de acordo com funcionários da Servimarc, é a dificuldade em arcar com os custos de retirada do entulho, realizada até então pela empresa Cavo.
Varredores, técnicos e jardineiros reclamam do cheiro. A poucos metros dali, fica o refeitório dos funcionários. "Nesse calor, fica insuportável", disse um funcionário, encarregado da jardinagem. A Servimarc afirmou que o lixo do local foi retirado duas vezes na semana passada e a situação atual seria regularizaria na noite de ontem.
Funcionários da Servimarc se queixam do atraso de salário de dezembro e, desde o começo deste mês, ameaçam greve. "Eles não receberam salários, vale-transporte ou vale-alimentação", disse Moacyr Pereira, presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Serviço de Asseio (Simaeco). A Servimarc informou que até o dia 22 pagará salários e benefícios dos funcionários.
(Por Vitor Hugo Brandalise, O Estado de S. Paulo, 14/01/2009)