O ano começou e as expectativas de uma crise já estão fazendo vítimas entre as pequenas empresas, principalmente aquelas que prestam serviços para as grandes. Das matrizes na Europa ou Estados Unidos vêm a ordem de cortar 30%, em média, das despesas. As diretorias locais e as assessorias de comunicação se apressam em dizer que não haverá demissões e que os investimentos estão mantidos. No entanto, não estão colocando nas contas as pequenas empresas prestadoras de serviços que estão tendo seus contratos rompidos com explicações do tipo: “Você entende, não é nada pessoal, é que temos de reduzir despesas”.
Pequenas empresas que investiram forte nos três primeiros trimestres de 2008 para fazer frente ao “crescimento chinês” da economia brasileira, e que agora estão tendo de rever seus custos e demitir pessoas. O governo tem feito um grande esforço para garantir a oferta de crédito para as grandes empresas continuarem a operar, para as montadoras continuarem a vender carros ultrapassados e beberrões e para que a “grande economia” não pare. No entanto são as pequenas empresas que vão absorver os “cortes de custos” das grandes. E isto ainda não está sendo medido de fato.
No mundo real, desde que o ano começou a maior parte dos pequenos prestadores de serviços que conheço estão alertando que contratos não estão sendo renovados. Somente aqui na Envolverde tivemos quatro grandes clientes, com faturamento acima do bilhão por ano, cortando contratos menores de 3 mil reais por mês. Não há, nos cortes, juízo de valor de impacto na cadeia produtiva. E, honestamente, nem sei se teria como haver. O importante á a constatação de que conteúdos sobre sustentabilidade e responsabilidade social estão deixando de ser comprados por grandes empresas em função de redução de custos.
As bordas do mercado, aquelas áreas que alimentam os pequenos empreendedores, estão sendo arrancadas como “gordura”. Um produtor e comerciante de brindes sustentáveis me disse há alguns dias: “Na hora do aperto um produto de comunidade ribeirinha da Amazônia é trocado por uma bugiganga chinesa sem nenhum constrangimento”. As empresas cortam custos na planilha.
A crise certamente não vai engolir o Brasil, como tantas outras fizeram ao longo das últimas décadas. No entanto, mais uma vez as pequenas empresas e organizações precisam se reinventar e buscar uma gestão mais eficiente (em alguns casos com cortes na carne) e produtos e serviços inovadores. E não se trata de pedir ajuda ao governo, mas de fazer os governos verem que suas ações surtem efeitos apenas no centro dos mercados. Na periferia dos negócios, onde se aplica o Simples, as empresas precisam de apoio. É lá que o desemprego vai pegar mais pesado, onde a informalidade vai retomar força e a pirataria pode seduzir incautos.
A sustentabilidade pode ser a tabua de salvação para muita gente. Precisa ser, também, um critério a ser usado nos cortes. Não se trata de punir ineficiência, mas sim de preservar capital humano para a retomada do crescimento, que será em breve. Tenho certeza. (Envolverde)
(Por Dal Marcondes,
Envolverde, 13/01/2009)